sábado, junho 30, 2012

Um cara sob sua roupa de frio passa a marcha do carro numa tarde nublada, entrevendo o acúmulo de trabalho decorrente de quinze dias afastado; deseja anotar um lembrete sobre o pagamento de uma conta, melhor pagar ou agendar e... flash. Ele ri e ajuda a remar, alta noite, com seu chinelo um dos barcos emprestados que o levarão com seus amigos ao bregão do outro lado do rio. Letícia, Yuri, Paula, Lucas, Iratan, Bixão e amiga de cujo nome ainda lembrará. Recebe das mãos de Paula o primeiro Netuno da noite, ainda no Bar Lagoa, da Hermínia (o último quem serviu foi Zezinho, dias depois). Sente coisa boa ao ver Paula lecionando inglês para as crianças. Está na mesa pós-café, na conversa de alma de 4 horas como Nelma, como pode uma empatia assim de cara, seguida de empatia semelhante por Alexis, na conversa do pós-café seguinte, de outras 3 horas, ele se pergunta (o casal terá um post próprio). Aprende com Sabará, traça planos com a ajuda de Jurandir, mata a saudade da prosa com Satu. Agradece a gentileza de Dalila, conhece o som de Edson Gomes enquanto come queijo artesanal na casa de Raul e Cassilda (casal com o qual ficou em falta, mais um motivo pra voltar). Tenta compreender uns conflitos latentes, pessoas de dentro, pessoas de fora, pessoas mais de fora que os de fora, que todos estejamos sempre bem. Conversa e se atualiza sobre Caraíva e redondezas com João, que é a mesma pessoa que Jonguinha, veja só que coisa. Come um chocolate no bar do Gustavo, após uma cerveja servida positivamente por Latino. Olha fixo para os olhos de bondade de Princesa, a dogue alemã de Thor. Uma viagem se faz com movimento, uma puta viagem se faz com pessoas. E o que falar quando o paraíso emoldura essas pessoas. A viagem sensorial, mais que física. Livros jurídicos à direita, a garrafa ainda fechada de netuno à esquerda, um nó de gravata sendo amarrado diante do espelho daqui a alguns dias... flash. O cara sob sua roupa de frio publicará esse texto em algum recanto pouco conhecido da rede. Enviará para as pessoas citadas, das quais tenha o contato. Mas escreveu fundamentalmente pra ele mesmo poder lembrar, quando a transição se fizer mais intensa, de que há várias outras – e muito boas – possibilidades para se viver com plenitude.

sábado, junho 16, 2012

Bar do Nelsinho - ME


O rapaz do bar admirou-se da quantidade de tempo que passei na água do mar de caraíva. Realmente, após ter-me secado ao sol, tomado cerveja, conversado com uns camaradas, tirado algumas fotos, voltado pra pousada, tomado banho, deitado na rede, aberto essa coca, colocado jack johnson e começado a escrever, ainda estou enrugado, talvez não tanto mais como um sapo. Vontade de transcrever uma parte do que disse ontem no moleskine, olha só: "A felicidade instala-se em mim. Caraíva, ao seu melhor estilo, recebe-me com um beijo afetuoso e uma dançadinha de leve, cool de jazz com bossa nova e forró com reggae na casa do Raul. Meu peito ostenta um colar de tentos, do segundo pau-brasil (não entendi direito essa parte), dado de presente por Raul e Dona Cassilda. Foi assim: saio da pousada-like-a-boss rumo à praia, em busca de almoço. Não acho o local pretendido, resolvo caminhar e conhecer e vivenciar e tal, até que acontece: Raul me confunde com outro turista. Desfaço o mal-entendido e quando vejo estou dentro da casa de paredes verdes e ar de amizade de Raul, que me apresenta a D. Cassilda, sua esposa, que veio da aldeia, é pataxó, e agora Dona Cassilda já parte o queijo para eu comer com café, é o marido da sobrinha dela quem fez, junto com o requeijão, que como acompanhado já do segundo café. Cassilda mostra-me todas as ervas do quintal e diz para que serve cada qual, o cachorro é manso, dá-se bem com os gatos, Raul toma cachaça, dança reggae, Dona Cassilda janta e eu me regozijo, porque queria exatamente isso, constato afagando a cabeça do cão manso. Raul não me deixa sair por 37 vezes e, quando saio, encontro João, que me trouxe de Porto Seguro hoje cedo. Estava saindo da Lagoa Pousada e Restaurante, mas volta para me apresentar para Hermínia, a dona do bar. Tomo uma cerveja proseando, conheço Letícia (...), a cerveja chama outra, peço o talharim e começo a escrever até o ponto final que se seguirá à segunda palavra final.".
A tarde cai em Caraíva, o sol se pôs no meio do texto e eu já não sei se é a energia do mar, se é a hospitalidade do povo, se são as ruas de areia, a conversa que tive com meu pai no mar, se é tudo misturado, o fato é que há muito não sinto essa plenitude. 
E se realmente largo tudo e venho morar onde me sinto assim, sempre, por mais que me venham com o papo de que morar é diferente de visitar e tals? Posso ser dono de bar e advogar nas horas vagas e escolher cada caso e trabalhar nele com a vontade e o afinco que tinha no início, quem sabe quem sabe. E enquanto isso, ter um cachorro e, com o tempo, minha casa de vidro autossustentável voltada para o leste que, no caso, chama-se oceano atlântico. Bar do Nelsinho - ME.
Ainda não visitei Satu, sairemos amanhã bem cedinho, Nelma, Yuri, eu e, seria muito bom, Bubu. Mas acho que Bubu costuma ficar em casa. Satu está bem triste e, em respeito, não direi os motivos aqui. Trarei uma garrafa de Netuno de volta, na mochila, de qualquer sorte.
Bar do Nelsinho – ME, com a casa de vidro voltada para o leste aos fundos, não se afasta quase nada do primeiro Plano B, de onze anos atrás, em propor sociedade ao Satu. Seríamos praticamente vizinhos.
Olho pra esse mar gostoso de ficar, de olhar, de cheirar, de ouvir e pergunto vez mais: que será que tem esse lugar? Que será que traz tanta gente de Roma, da Noruega, de São Paulo, que vem pra passear e aqui fica.
Tenho o palpite de que é algo situado entre o coco do Satu e o queijo do Raul, dentre suas infinitas variáveis-manifestações. 


domingo, junho 10, 2012

La vida es una tómbola...


Que voy a hacer, je ne sais pas/ Que voy a hacer, je ne sais plus/ Que voy a hacer, je suis perdu/ Que horas son, mi corazón. E acabei mandando a mensagem proibida. Não dei aquela saída. Cinco primeiros minutos da semana em que me desligarei, espero, um pouco de tudo. João boa vibe devidamente contratado, viajar sozinho vai voltar a ser bom, tem que voltar, eu vou voltar pra aí, paraíso perdido, to chegando. Penso em paradoxos de pacote de bolachas segurando backspace. Dá nada não. Não criar expectativas, sei, tá bom.
A construção frasal "acabei+ ponhaaquiumgerúndioqualquer" tenta afastar o dolo. Quando vi, puf! mandei a mensagem proibida. Não condiz com a fase atual, não condiz, não. No front: al jazeera. No jazeera, i said no, no, no, que que sobra?
Véi falou que não tenho nada, para de tomar essas coisas fii. Tem nada não, viu?
Súbito, desculpa aí, manu chao, verdad que no lo sé todavia todo todo lo que voy a hacer, pero una cosa me ocurió ahorita. Y la voy a hacer, pronto.

quinta-feira, junho 07, 2012

Ah, é? Então vamo lá. Zé Satriani não precisa de palavras pra dizer que sempre é tempo pra se escrever o que se quiser, ainda que a nova proposta seja largar mão de tudo isso aqui, esquecer o umbigo e escrever pro mundo. Entendo o coldplay (mais ou menos, tudo bem, pq realmente a musiqueta lá era bem bem bem igual à música do Zé), mas chords of life parece abarcar toda a música do mundo, que é que se vai fazer. 
Da minha parte, ponho o chapéu em homenagem ao steve vai e sou careca em homenagem ao joe satriani (chapéu uso mesmo pq tá frio do cão). Acho que hoje é dia de morte de alguns dos meus top five que se foram, não lembro se do tio filo ou da vó olga, mas que bom que vou esquecendo os dias de morte, só guardo os dias de vida. Esqueci não, tio filo, esqueci não. As pessoas dizem que sou bonzinho, mas eu vou é me ferrar qdo a moça de preto e foice vier me visitar. Então, tio filo, fica atento aí e vai me buscar assim que der, pq não guardo mais esperança de ir direto tocar harpinha. Isso se os budistas não estiverem certos, daí ferrou-se de vez. 
Por ora, é prestar atenção no que tiver de bom no feriado, saia céu azul ou não, como bolinho de chuva, aprendo a fazer o de chocolate, faço um pudim, asso carne e chamo pessoas pra comer.
Quero fumar cachimbo.
Organizo as viagens, opostas viagens, contradições vividas num curto espaço de tempo, sou um elétron que bate no pote hermético de uns cientistas coçadores de queixo e que murmuram hummm!!! o elétron, olha ele aí, se chocando na parede do pote hermético, anota, fii!
E eu dizia pela manhã, séria e profundamente que sem querer encontro raízes. Gosto de Charlie Brown, que gosta de Camisa, que gosta de Raul, que gosta de Elvis. E o que soava alto na minha casa, enquanto dizia séria e profundamente essa constatação? Elvis Presley, que curiosamente não morreu.
Gosto de Crossroads, cujo ry cooder, quando não maravilha o mundo com os cubanos, gosta de easy rider, que gosta de rebel without a cause, que gosta de the wild one, que gosta de on the road, pra quem torci em cannes e assim vai. E como estou tentando aprender inglês pela última vez? Com on the road no original, versão traduzida ao lado. Se pensar então que crossroads gosta diretamente de robert johnson, daí o caldo engrossa, pq quem gosta dele era um monte de gente até chegar no elvis, que soava alto na minha casa enquanto dizia coisas sérias e profundas, sem falar nos beatles, no bob dylan e mais um monte de coisas, que ajunto tudo vez em quando e deixo de lado, pra só curtir o manoel de barros, o câmara cascudo e o catulo da paixão cearense e então grito: Aqui, Irlanda, ó aqui pra vcs!!!
"Despois desta jura santa
pra tê de todas as pranta
a graça, o perdão intêro
dos crime de home ruim
foi se fazê jardinêro,
e não fazia outra coisa
sinão tratá do jardim
A vó, que já carregava
mais de noventa janêro,
dizia que neste mundo
nunca viu um jardinêro,
que fosse tão bom ansim!
Drumia todas as noite,
dexando a jinela aberta,
pra iscutá todo o rumô,
e às vez, inté artas hora,
ficava, ali na jinela,
uvindo o sonho das frô!"
Catulo da Paixão Cearense, O Lenhador.

Aqui, Irlanda, pra vcs!!!

sexta-feira, junho 01, 2012

Uma rádio uruguaia tocando suas músicas em mirandópolis, enquanto um esquimó corta prováveis peixes, Tatá não brincou quando falou da pescaria, nem tudo é parábola, nem tudo o que te digo é, linda, alegoria. Os mulheres negras subindo ao palco com seus chapeuzinhos afloraram de algum canto de meu cerebelo a dormida lembrança de meu pai dizendo que eles eram muito muito bons. Não me lembro de sua réplica quando respondi que o repertório dos mulheres não fazia parte dos seus boleros e sambas-canção, mas posso suspeitar algo que tenha me calado, feliz, como costumava fazer até os últimos dias, com seu sorriso irônico, revelando que seu pensamento era cósmico e que eu não tentasse entender. Lembro-me muito bem das suas mãos e dos seus dedos, até porque, a cada dia que passa, minhas mãos e meus dedos vão se tornando cada vez mais parecidos com os dele. Minhas mãos e dedos gostam de tocar de levinho e sentir a textura de tudo, de agarrar com força coisas como a bisteca do sujinho, tenho que cumprir o ritual e comentar com o garçom que a bisteca é bonita de ver assim, saindo do prato; gostam de digitar e assinar meu nome, meu nome, em nome de que ou de quem eu sigo e faço tantas coisas corriqueiras, mas tantas que me perco? Queria ser o esquimó, queria que a moça lá me dissesse quanto vale a arroba do cabrito, mas me explicaram que cabritos não são os exatos desideratos mirados pelos investimentos da moça lá. nem sob o irrefutável argumento de que são commodities. Quero nessa tarde a saída, pelo lado esquerdo do trem, pelas colinas, pelas montanhas, metrô Sé e a área em que criarei cabritos e arrendarei para Manezim plantar suas frutas e delas fazer geleia. Abasteceremos os grandes centros consumidores com nossos queijos de cabras, geleias de frutas, nossos pensamentos traduzidos em palavras e sons virão de brinde. Eu te escolho, moça, pra vir morar na minha casa simples rural, contanto que teças a cortina com galinhas prometidas e as colchas de retalhos, deve haver um nome técnico pra elas, não nos amarra dinheiro, moça, mas todo o resto. Escreverei mensagens que, engarrafadas, seguirão o curso do riacho e pararão no sítio do vizinho, que as guardará em silêncio ou nos retornará em estilhaços de garrafas na porteira. Mas pra mim, como sempre e nos demais casos, pra ti também é assim que eu sei, as mensagens chegarão à Dinamarca ou à Oceania. Os Mulheres Negras se uniram ao mojito e ao jack daniels pra me fazerem olhar em volta, respirar fundo e ver o tatá tirando fotos, o bronza sambar com os amigos, enquanto eu me lembrei dela e de tudo o que poderia ter sido, pela primeira vez sem dor, com reconhecimento e gratidão, com amor, sim, redimensionado para o amor que se sente por um ser humano maravilhoso, linda, com seu sorriso que nos abarca a tudo e a todos, com seus polegares que, dobrados pra trás, me fizeram ter a certeza de que me casaria com ela. Acho que preciso dos Mulheres, do mojito e do jack daniels, ou preciso das fotos do tatá e da sambadinha do bronza, um dia não precisarei de nada, pra sempre pensar nela apenas daquele jeito, com gratidão e amor de ser humano. Não sei se lês isso, mas quero de uma maneira muito forte que sejas extremamente feliz, como é a felicidade que espalhas pelo mundo. Eu respirava fundo e fundia passado e futuro naquele momento e num átimo o salão esvaziou, no máximo a base permanecia saindo do netbook do abujamra e constatei, como um esquimó constata a maneira correta de se cortar o peixe, que diria tudo o que sentisse com a faca emprestada do esquimó, pra cortar o cordão umbilical. Ainda não deu, que venha o próximo.