terça-feira, junho 21, 2011

OUTONO X - FIM.

Eu estava brincando no terreno baldio do João Paulo, construindo um castelo com tijolos de verdade com os amigos, quando o Corcel II, dirigido pelo Seo Cesar Rafaelli, desceu a São Vicente de Paulo e virou à direita no comecinho da João Pires, ainda de terra, até parar na casa de arcos. As pessoas batiam à porta pensando ser igreja, pra rezar. Mas era a nossa casa estranha mesmo, branca, comprida e coberta de arcos. Minha mãe desce do carro com aquele tufo de panos brancos, não dava pra ver uma nesguinha de pele. E eu saí correndo sem olhar pra atravessar: “´- É a minha irmã que chegou, a minha irmã que chegou!”.
Já dentro de casa, vi pela primeira vez aquela coisinha minúscula, carequinha, sem dentes, quase uma corintiana (só por essas características), se não fosse já linda e tão são paulina, desde sempre.
Hoje eu a vejo também de branco numa foto do facebook, segurando um nenenzinho lutador e dizendo que é sua a maior felicidade do mundo vê-lo bem.
Tudo tem seu sentido. Embora de um parto tranqüilo, ela nasceu na maior muvuca: dia 22 de junho, sendo que dia 23 ou 24 nossa avó ficou doente. Em poucos dias, a casa de arcos teve três novos moradores: vó Olga, tio Filo e ela. E, também, a dona Helena, que cuidava da minha avó. Tio Filo e Dona Helena tinham a mesma paixão: essa menina que hoje se desvencilha das muvucas de tantos partos que até perdeu a conta.
Já disse textos atrás que a cada dia descubro coisas novas: tipo ela adorar o Aryton Senna (sim, com essa grafia, ela falava assim), o Woody Allen, Napoleão Bonaparte e caixinhas de música a manivela. Quero descobrir mais.
Dona Helena e Tio Filo mimaram-na muito. Este chamava-a de florzinha da casa. Sempre imagino os dois irmãos, ele e meu pai, orgulhosos no céu, a cada parto muvuquento do qual ela participa, meio que soprando: pega ali, gira assim, agora isso, não esquece de ver aquilo... mais ou menos como eles sopram pra mim: não tem nenhum prazo acabando não??
Esse lance de ser irmã mais nova distancia a gente um pouco no crescimento. Mas daí a gente tem o resto da vida pra reunir. É recorrente a lembrança de que ela vinha pedir pra eu ler histórias do tio patinhas pra ela dormir. Deve ter feito isso uma ou duas vezes. Mas pela memória seriam dezenas, já.
Cresceu e foi estudar na escola já enorme daquele mesmo João Paulo, que deixava antes os moleques construírem castelos de tijolos de verdade em seu terreno baldio.
Brigávamos todos os dias e invariavelmente ela chorava. E chorava. E chorava. E não parava de chorar. Diz que eu judiava dela, que eu era insuportável, que às vezes ainda sou. Digo que é tudo mentira.
Aprendeu xadrez, ballet, inglês, queria ser o que mesmo? Engenheira de alimentos...
Pediatra neonatal será que não engenha um pouco o alimento-esperança naqueles momentos delicados em que a história de incontáveis famílias pode mudar drasticamente? A cada vidinha que ajuda a começar, como na foto que vi semana passada, do neném lutador? Isso me soa meio como missão divina, quando feito com amor.
E escuta essa menina contando dos partos pra vc ver o que é amor.
Pra isso, antes, seis anos em Poooooooooooouso Alegre. Dessa parte sei pouco (ainda bem, será? hehe), a não ser das idas e vindas de ônibus Transul que paravam lá no ultramarino, quando não na polícia rodoviária.
Hoje ela vai pra balada, vai pra Europa, para naquela loja de maquiagem que é pintada de preto (a loja, não a maquiagem) e fica horas, até levar meia loja. Compra sapatos para centopeias. Cerca-se de amigas do bem, Foge de pessoas do mal. Enfrenta algumas, quando preciso, já que é filha do Dr. Nelson e é, dos três filhos, quem mais o puxou. Brava, tinhosa, pimenta, mas docinha em geral. Nos últimos dias dele aqui no planeta, ela sabia de tudo o tempo todo. E nas últimas duas noites não desgrudou dele. Deu todo o suporte, o carinho, o amor. Praquele outro lutador, que tanto amava a vida. A mesma vida, que ela ajuda a começar.
Sei que uma das últimas e maiores alegrias dele foi poder participar da sua formatura. Com a família inteira reunida.
Ama a nossa mãe e consegue a proeza de, após dona verinha superar o pavor de assistir ao vídeo dela saltando de para-quedas em Boituva, arrancar dela um: “que orgulho de vc!”
Eu devo ter errado muitas vezes com ela nesses anos todos. Espero que se ela tiver certeza agora de que a amo demais, eu ganhe alguns pontinhos, de repente.
Então Feliz Aniversário, Naninha!
(Em tempo, já que vcs ficam falando que exponho muito nos textos, li antes pra Velvinha aprovar e ela disse que posso publicar).
(e até o ano que vem, outono).

quinta-feira, junho 16, 2011

OUTONO IX - QUASE QUASE FIM.

I'ts times like these, you learn to live again, to give again, to love again. Algo me prendeu na minha casa até agora. Era pra eu ter ido pra atibaia e de repente me pego escrevendo "na minha casa" tão naturalmente assim, e aqui é Parnaíba. Acho que me mudei de verdade. E então vêm esses foo fighters e eu, pagando-lhes atenção na letra, vejo que estou cada vez cada vez cadavez menos dividido. E várias pessoas fazem teorias sobre mim, viro objeto de estudo, sou analisado, pesado, verificado, dissecado, até. Mas continuo aqui, com minhas musiquinhas e vitaminas com suco de laranja, sem sombra dúvida muito melhores que as com leite. E em seguida vêm esses hoodoo gurus e falam que they (eles falam I) never find a place where they can stay. Inevitável perceber-me mestre na adaptação. Nostalgio até te encher os ouvidos de aborrecimento, mas me adapto fácil onde estou. Todo lugar tem sua graça, toda pessoa, toda circunstância. Certo, isso foi de alguns meses pra cá, os tais livros em que pirei e tals. Mas finalmente vejo-me aproximando-se daquele tiozinho tranquilo com olhos inquietos que quis ser. Terei um filho? E por que não? Espero só mais um pouquinho, pra quem já esperou tanto, que é como se diz.
É que eu to ouvindo minha setlist estradeira enquanto escrevo, gente boa. Nem tudo vem pra tela, obviously. Gosto dessa sequência de letras. Só falta ter escrito errado. Dane-se. O outono está acabando e esse eu aproveitei bem, finalmente. In the trenches, hand-to-hand, seguem os HG. Night must fall, night must fall.
Espírito que está aí, esperando pra ser meu filho. Ou filha. Só te digo uma coisa: vc vai se divertir. Tem paciência, meu. Preciso percorrer alguns caminhos ainda. Mas já estou chegando, sinto. Um dia vou te trazer aqui, pra ver essa vista do horizonte, pra quem vai pra Pirapora. Se o dono da casa deixar, trazemos algo pra beber até a noite, ela precisa, cair.
Vc me ligou naquela tarde vazia e me valeu o dia.
Agora sim. Esse vai sem fim. Vai sem nozinho. Eu gosto de dar o nozinho com algum trecho dali de cima, um linkzinho, é uma tática pra fazer um fim de texto. Mas hoje as operações táticas estão tão calmas, que eu vou saindo assim, mansinho, em silêncio, meio sorriso... e com o chapéu do Indiana Jones.

segunda-feira, junho 13, 2011

OUTONO VIII - O QUASE-FIM.

Minhas tardes com Margueritte. A banda mais bonita da cidade. A Pedra Grande. A Bela Vista. O teu beijo. As perspectivas. O "não" definitivo. O vamos ver o que dá. O vamos juntos. O corre do meu lado. Quando vc cansar eu te carrego. Quando eu cansar vc me leva no teu carro. Eu te levo de moto. Mas só quando souber levar alguém na garupa sem assassinar o iphone que estava no bolso e me ralar todo. Eu vou pra Espanha. Eu não vou pra Espanha. Eu vou pra Galícia. Eu vou conhecer a Europa a despeito dos Estados Nacionais. Da Europa eu quero a protoeuropa. Porque de atual eu sou América. Brasil. São Paulo. São Paulo-Socorro. Rodovia Fernão Dias. Com ênfase em Atibaia. Com perna estendida a Parnaíba. Parque Fernão Dias. Pertinho do asilo. Cabe o meu amor. Cabem três vidas inteiras. Cabe uma penteadeira. Cabem as galinhas do mato que sobem na árvore e esse galo que não canta mais, o que será que houve? Como posso passar mês e meio aqui e não ter ainda apelidado minhas galinhas do mato e seu galo, sendo que Germain nominou seus dezenove pombos? As Paixões do Ego, O Despertar de Uma Nova Consciência, Conversas Difíceis, Toda Poesia. Eu vou me emaranhando nessas ideias, vou despertando essas fúrias e mágoas nas pessoas. É o que acontece quando se tira o cobertor de cima de si e se coloca primeiro o pé direito no chão frio, que é pra dar sorte pro dia. Vc causa amores, fúrias e mágoas. E depois tudo passa, como passaram os objetos da feirinha do vão do Masp. Eu vou montar uma barraquinha no vão do masp e vender os vendedores daqueles objetos todos. Se algum de vcs ler isso um dia, o que duvido muitíssimo, relevem. É que acho vcs meio estranhos, por detrás dessa sisudez e mistério e desse sei-exatamente-o-quanto-vale-cada-coisa-e-vc-não. Mas isso aqui é só literatura, relevem. Tudo foi só literatura, menos muita e muita coisa. Menos o sítio do salto, que passará a existir apenas nos meus sonhos, até que os meus átomos se dispersem todos pelo Universo, numa visão mais reducionista, quem garante, quem garante? Foi lá, vô, que vc me deixou dirigir a toyota, sem vc por as mãos no volante. Perto dali, tio philo, que vc me levou nos ombros e eu fui pela primeira vez um gigante, muito mais muito mais. Foi perto dali, pai, que sua testa se uniu à minha no mesmo sorriso. E não são as pessoas que sorriem, é o Sorriso que passa de um pra outro; que, no descuido, vlapt, se instala no rosto das pessoas e agora está lá, na doce Eloíza, pequeninha e cabeludinha, com acento e Z no nome, filha de dois dos melhores seres humanos, o Sorriso, vlapt, vc trouxe pro rosto dos meus Gi e Ricardo. E o outono vai como vai essa neblina na baixada, quando as galinhas já desceram pra ciscar. Quando o sol me convida a ir ao fim da terra, onde os celtas queimam suas roupas na renovação. Eu vou a pé e se cansar eu paro e como uma laranja. Paro e peço uma limonada de limão galego, como aquele pé que ficava ali do lado da garagem. Eu só vou ser teu se eu puder fazer de vc a mulher mais feliz dos mundos. Essa é a última oração, pra salvar nosso coração. E o coração, a banda, que é a mais bonita, sabe, não é tão simples quanto pensa e vc, que é a mais bonita da minha vida, também sabe. O outono vai como foram os peregrinos. E voltaram renovados, como, antes deles, os celtas. E dali de onde eu tomo meu chá mate eu vejo o quê? a estrada dos romeiros. Romaria, peregrinação, tudo sempre interliga ou é meu lado louquinho da praça que em tudo vê essa graça? Nos meus outonos cabe o que não cabe na despensa. Um dia eu sossego e me apego a um balcão de bar, não pra ferrar o fígado, mas aferrar a fidalguia com amigos que terei. Não os que já tenho, que com esses já circundo balcões em escalas musicais sem ao menos suspeitarem. Terei aqueloutros amigos só pra imitar o filme, mesmo.
Vem, inverno; vem, galícia; vem, amor.