domingo, maio 30, 2010

Gente que vai, gente que vem, gente que passa, gente que volta, gente que nunca deixou de estar, gente que viria, gente que virá.
Gente que insulta, gente que pede, gente que ousa, gente que trama, gente que ama, gente que odeia, gente que vibra, gente que ajuda, gente que mata de rir, gente que morre por mim, gente que luta, gente que passa ao largo, gente que estreita laços, gente que desata nós, gente que somos nós.
Eu, com estranhamento, sinto amor por todos. Sinto que todos de alguma forma são parte de mim.
Vai entender.

quinta-feira, maio 13, 2010

Minha vida é aqui, é agora, eu sou matéria e imatéria. Sou matéria e bilatéria, num canto do escritório da casa de Atibaia. Trago saudade do meu pai dentro do peito, por assim dizer. Trago na imatéria, pra confirmá-la. É uma tarde de quarta dum outono atibaiense, o que eu entendo por metade exata da semana. Isso aqui, saibam, é uma avaliação. Avalio os acertos da semana, desde sábado antes de dormir. Que é final da semana por excelência, pra mim. De uns tempos pra cá as semanas ganharam importância, acho agora, demasiada. Não era assim antes. Mas não é isso. O que é, é o seguinte: exercício do Hara. Não explico não. O Hara tá comandando essa semana e contribuindo para os acertos. Pensem no meu umbigo. Um dia toda a minha energia me chegou por ali. Hoje eu reativo essa função. Por-assim-dizer. Dizia que trago a saudade do meu pai e também a alegria pela presença do meu irmão, jogando videogame, na sala ao lado, já já ele vem aqui pra me irritar com algum chiste. E isso vai me encher de alegria, porque ele é uma das pessoas mais importantes da minha vida, mal sabe. Alegria pela presença da minha mãe, que me comprou a pescada branca, mais cara mas que não tem espinhos e, enfim, é a minha mãe, nem precisa falar mais nada. Domingo no alemão eu fiquei feliz demais naquela mesa redonda, mas sou tachado de piegas. Meus quatro pontos cardeais comendo eisbein e salmão no papelote.

Vou me concentrar em vcs, quatro elementos, meus fogo, água, terra e ar. E não vou sentir medo de amar, pela possível perda no futuro. Nem vou. Vou amar tudo que tenho pra amar. Como agora.

Na parede aqui da frente, vô Galvão sorri enigmático no quadrinho de uns que, 50 anos. Trago muitas saudades boas no peito, na imatéria. Andre Abujamra é o cara que gosto de ouvir pra pensar na minha vida de verdade.

Minha vida é aqui, é agora. Tenho cerca de trinta processos empilhados do meu lado direito, no esquerdo está a biblioteca lida e estudada pelo meu pai. Em cada processo, tomarei uma providência, algumas bem simples, outras complexas. Cerca de trinta relações que as pessoas travaram com a prefeitura. Existem várias pessoas, dentre as quais as trinta, físicas ou jurídicas, que querem ter seus problemas resolvidos. A prefeitura é uma ficção.

Aparte: por um mecanismo que imita o pensamento, meu celular mandou pro celular da moça por quem eu era apaixonado quando tinha dezessseis um recadinho: “me ensina uma coisa bonita e esotérica, pra eu ir buscar?” E ela me respondeu com um site, que vou ler daqui a pouquinho, só terminar o pensamento: a prefeitura é uma ficção.

Se eu levar meus princípios a sério, eu vou tomar minhas trinta providências agora pensando que eu represento o interesse de cerca de 120.000 pessoas, que formam o município que me paga o cinema, o tênis, o remédio e o x-salada. Se eu penso nisso (ouvindo duvião, do andré abujamra), eu tenho vontade de trabalhar com gosto, mesmo que essas 120.000 pessoas não façam a mais pálida ideia de que tem alguém trabalhando por elas. Ainda que as outras centenas de pessoas cujo remédio, tênis, x-salada e cinema são pagas pelas 120.000 não pensem nisso também. Mas assim o mundo gira e, assim, acaba de ficar mais rica a minha vida, aqui e agora. Antes, uma olhadinha atenta no site que ela me mandou.


domingo, maio 09, 2010

Tá, eu sei, blogspot não tem br!

Mas como eu ia mudar lá depois?? hehe
Vc trabalhou a vida toda com computador, sabia que esse não seria um empecilho pra vc.
Como faz pra trocar?? Nada de vão livre do masp, confere?
A dúvida se desfez na primeira cena, Joicinha: eu já tinha assistido Elizabethtown.
Ter visto novamente, hoje,08 ou 09.05.2010, trouxe a vontade de vir pra cá contar umas prosas pra vc.
Em 2005 eu não não perderia jamais meu Mittchel Baylor. Ele era imortal, até o dia do meu aniversário, ano seguinte, quando dei uma saidinha do La Cumparsita pra contar, de um orelhão qualquer de San Telmo, que os caras da casa lembraram dele (afinal, ele era um Mittchel Baylor, Joicinha) e, nesse telefonema, eu pressenti pela voz trêmula de minha mãe, somada a uns 37 "tá tudo bem" sem eu ter perguntado nada, que nem tudo que é bom na vida é pra sempre.
Provavelmente em 2005 eu tenha assistido como a mais uma das tantas comédias românticas que a Alê adora e em cujo tempo eu gasto pra comer pipoca e prestar atenção na trilha. E que trilha esse tem, hein? vc está com a razão.
Hoje não, Joicinha. O filme tem muito mais coisas a ver, mas são coisas inadequadas a um blog. Sei que Cameron Crowe, notável por lascar canções de tom petty num carro dirigido por um americano aparentemente irrelevante (a ironia de Crowe, essa irrelevância?), fez um brasileiro melancólico e com saudade do pai pensar bastante na vida e ter vontade de escrever sobre isso.
Em 1997 começou o meu gosto por viajar sozinho ouvindo música boa, a teoria da libertação do filme. Chapada dos Guimarães foi meu destino, com umas latinhas eu sou capaz de traçar um bom roteiro, de cabeça. Como aperitivo, ao chegar ao centro geodésico da américa do sul, ouça a faixa 12 de eletric soup, de hoodoo gurus, in the middle of the land, talvez a maior das coincidências que coleciono. Joicinha, tua carta acaba aqui, beijão e valeus!
*
Porque agora o meu papo é com o senhor, seo Mittchel Baylor de Itápolis. Quando vc morreu, meu amigo Daniel avisou algo como: isso não melhora, vai ser sempre assim. Gostei da sinceridade, fugidia do lugar-comum que o tempo leva tudo.
Leva o escambau.
Eu vou fazer um garrafão de basquete no lugar onde vc queria construir a garagem, pode xingar. Não tem sentido fazer a garagem lá longe, pai, pensa bem. Deixa os carros onde estão, vc viu que eu pus a pampa enviesada, vai dizer que não ficou bom?
Vc sabe que eu adoro cochilar na sala que vc bolou. Não escuto o som, mas deito naquele sofá, onde ouvimos os tangos de logo quando cheguei de buenos aires e vc me deu a pior notícia de toda a minha vida. Não, sem pensamento ruim, eu gosto da sala porque vc planejou do teu gosto e, realmente, é o cômodo mais legal da casa. Briguei com a mamãe porque ela tirou os quadros que vc tinha colocado, mas ela mandou bem, pôs todos os teus títulos na parede. Eu não olho com orgulho nobiliárquico provinciano, que vc mesmo dizia ser bobagem. Mas penso no que te deixava feliz: o tanto de coisa boa que vc construiu, pra cinco cidades te homenagearem sinceramente, uma das quais vc aposentado há mais de catorze anos. Vc foi um cara de construção.
Conto sempre de quando a gente estava saindo de uma audiência no João Mendes e vc apontou pro outro lado da rua - pro TJ - e disse com voz enigmática: hoje era pro pai estar lá. Perguntei se vc se arrependia e vc falou que não, claro. Que vc sempre quis trabalhar com pessoas, não com papéis. Que coisa boa de ter ouvido do próprio pai. Eu disse, então, que os caras de Atibaia não mereceram o teu esforço, pelas puxadas de tapete que vc tomou depois de aposentado, e tal. E vc riu e respondeu que não fez nada pensando eles, tentou fazer pelo povo, esse sim, merecedor de todos os esforços. E eu, mais uma vez, pensei: que coisa boa de se ouvir do próprio pai.
Que coisa boa vc ser meu pai, pai.
Uma dessas terças, o Marcio estava comigo na ponta da mesa e falou pro Roberto: ele é a cópia do pai dele. Pedi pra ele desenvolver a ideia, ele se referia ao jeito de falar, sentar, tomar cerveja, essas coisas. Talvez minha analista não goste muito disso, mas eu segurei no ombro dele e falei que essa era uma ótima coisa de se ouvir. E eu estava já com umas sagatibas com originais pro peito, foi só suspiro de saudade.
Pai, pra quem que eu dou as tuas coisas de pescar? Tem que ser alguém legal e que goste de pescar. Judiação ficar as coisas lá em casa. Ofereci pra um cidadão, mas me arrependi e não vou dar nada. Eu tenho que ter plena confiança no pescador, cujas mentiras deverão se deter no tamanho dos peixes. Me sopra aí no ouvido, eu intuo.
É vc que me faz lembrar as coisas importantes na última hora? Tenho quatro suspeitos: Vc, o tio Filo, o Dr. Paulo ou meu anjo da guarda. Ou seriam vcs todos, revezando? Olha a cacheta, hein? Não desvirtua meu anjo não.
Ah, pai, vc sabe de tudo. Sei que não aprovaria algumas coisas. Mas quero ver qual é que é, sabe? Algumas dessas algumas, estou começando a desencanar, vc também sabe. O mundo tem que girar. Eu vou melhorar, viu, pai? Olha por mim!
Escrevi um post essas semanas falando de relance do São Jorge. E do Oxóssi. Eu sou a flecha de oxóssi, meu pai.
Eu vou melhorar, evoluir.
Por mim e por vc tbm.
Te amo, viu?