quinta-feira, maio 13, 2010

Minha vida é aqui, é agora, eu sou matéria e imatéria. Sou matéria e bilatéria, num canto do escritório da casa de Atibaia. Trago saudade do meu pai dentro do peito, por assim dizer. Trago na imatéria, pra confirmá-la. É uma tarde de quarta dum outono atibaiense, o que eu entendo por metade exata da semana. Isso aqui, saibam, é uma avaliação. Avalio os acertos da semana, desde sábado antes de dormir. Que é final da semana por excelência, pra mim. De uns tempos pra cá as semanas ganharam importância, acho agora, demasiada. Não era assim antes. Mas não é isso. O que é, é o seguinte: exercício do Hara. Não explico não. O Hara tá comandando essa semana e contribuindo para os acertos. Pensem no meu umbigo. Um dia toda a minha energia me chegou por ali. Hoje eu reativo essa função. Por-assim-dizer. Dizia que trago a saudade do meu pai e também a alegria pela presença do meu irmão, jogando videogame, na sala ao lado, já já ele vem aqui pra me irritar com algum chiste. E isso vai me encher de alegria, porque ele é uma das pessoas mais importantes da minha vida, mal sabe. Alegria pela presença da minha mãe, que me comprou a pescada branca, mais cara mas que não tem espinhos e, enfim, é a minha mãe, nem precisa falar mais nada. Domingo no alemão eu fiquei feliz demais naquela mesa redonda, mas sou tachado de piegas. Meus quatro pontos cardeais comendo eisbein e salmão no papelote.

Vou me concentrar em vcs, quatro elementos, meus fogo, água, terra e ar. E não vou sentir medo de amar, pela possível perda no futuro. Nem vou. Vou amar tudo que tenho pra amar. Como agora.

Na parede aqui da frente, vô Galvão sorri enigmático no quadrinho de uns que, 50 anos. Trago muitas saudades boas no peito, na imatéria. Andre Abujamra é o cara que gosto de ouvir pra pensar na minha vida de verdade.

Minha vida é aqui, é agora. Tenho cerca de trinta processos empilhados do meu lado direito, no esquerdo está a biblioteca lida e estudada pelo meu pai. Em cada processo, tomarei uma providência, algumas bem simples, outras complexas. Cerca de trinta relações que as pessoas travaram com a prefeitura. Existem várias pessoas, dentre as quais as trinta, físicas ou jurídicas, que querem ter seus problemas resolvidos. A prefeitura é uma ficção.

Aparte: por um mecanismo que imita o pensamento, meu celular mandou pro celular da moça por quem eu era apaixonado quando tinha dezessseis um recadinho: “me ensina uma coisa bonita e esotérica, pra eu ir buscar?” E ela me respondeu com um site, que vou ler daqui a pouquinho, só terminar o pensamento: a prefeitura é uma ficção.

Se eu levar meus princípios a sério, eu vou tomar minhas trinta providências agora pensando que eu represento o interesse de cerca de 120.000 pessoas, que formam o município que me paga o cinema, o tênis, o remédio e o x-salada. Se eu penso nisso (ouvindo duvião, do andré abujamra), eu tenho vontade de trabalhar com gosto, mesmo que essas 120.000 pessoas não façam a mais pálida ideia de que tem alguém trabalhando por elas. Ainda que as outras centenas de pessoas cujo remédio, tênis, x-salada e cinema são pagas pelas 120.000 não pensem nisso também. Mas assim o mundo gira e, assim, acaba de ficar mais rica a minha vida, aqui e agora. Antes, uma olhadinha atenta no site que ela me mandou.