domingo, março 31, 2019

Esse é um texto para a minha futura arquiteta. Imagino que um projeto do lugar onde eu vá viver demande saber um pouco do que sou. Ou do que venho sendo, ultimamente. Obviamente, sabendo como escrevo, será editado. Aqui estará, então, a versão estendida. Que caiba dizer sobre o momento. Sobre ontem à noite. Sobre eu querer, realmente, que pudesse ser diferente. O último beijo. Será? Por que é que eu sinto que me arrependerei tanto no futuro e, ainda assim, quanto mais investigo, vejo que tomo a decisão correta? Voltemos à arquiteta. Volto a fazer uma das coisas que mais gosto e que ficaram paradas: escrever. No caso, para a arquiteta. Pra você. Pra mim. Pra todo mundo, após eu publicar, se vier a fazer isso.
Tenho 44 anos. Bem mais experiente em relação a quando parei de escrever. Bem mais velho, diriam as meninas, novinhas, do meu trabalho. Estou sentado numa das junções dos galhos-bifurcação da toda torta linha chamada vida. Sentado com um notebook ouvindo a trilha do documentário que me inspirou a vir pra cá, formar imagens.
Não, não cheguei aqui, aos 44, nesse galho, com filhos na faculdade. Nem no colégio. Nem no mundo. Terei dois cachorros em breve e essa é uma informação relevante para a arquiteta, suponho. Ou não.
Meu terreno é cheio de árvores. E quero que continue a ser, o máximo possível. Farei apenas um estudo para saber se estão fortes e que não cairão em cima de mim ou de vizinhos. Tenho a impressão de que é virada para o Oeste. Ou para o Sul. Preciso confirmar. Quero uma casa pequena. Com o mínimo de paredes internas. Queria você lá comigo, mas não soubemos como fazer isso. Foi o melhor, por mais difícil seja acreditar, acredite. Simplesmente não consigo te cortar das redes, te excluir, te bloquear, nada disso, vejo que você também não consegue, me perguntou ontem a razão, eu não soube dizer. Conseguiu mais que eu, deletou as fotos em que estou, um dia faço isso nas minhas, um dia. Que droga.
Quero uma casa feita de containers marítimos. Uma das paredes será azul tempestade, em homenagem a uma grande amiga. As demais, brancas. Quero madeiras formando brises, formando decks, não estou ambientado nos plurais arquitetônicos, ou ingleses e franceses. Quero espaço para dois carros, seria legal se fosse embaixo dos próprios containers. A Rotschild residirá lá, até que eu venha ter a casa de vidro virada pra Pedra, prestes a virar lenda. A pampa, não a casa, nem a Pedra. Arquiteta, Rotschild é a minha pampa vermelha de estimação. Será conduzida com muito cuidado pela estrada de Atibaia a Parnaíba, senhorinha que é, com o respaldo do Milanello, no carro dele, ele ainda não sabe, virá a saber quando eu vier a publicar esse texto. Ou quando eu pedir a ele, na iminência de irmos. Com Milanello nunca teve tempo quente.
Quero reutilizar água. Rede de calhas e cisterna serão bem vindas, pra não dizer essenciais. Quero usar energia solar, se possível, pra aquecer minha água. Pra aquecer o ar, quero uma lareira que quase nunca acenderei. Será? Se você desenhar uma lareira dessas que eu vejo no site do teu escritório, passarei dias trabalhando com o pensamento no momento em que acenderei a lareira.
O esgotamento sanitário, preciso confirmar na Prefeitura, talvez alcance o bairro muito rapidamente, assim como a água (no início teremos que trazer água de caminhões pipa que a própria Prefeitura fornece e repõe) e então será obrigatório. Caso não seja, me ajuda a bolar um daqueles sistemas que vi no Manual do Arquiteto Descalço? O teto, pensei verde, mas talvez prefira que lá seja o espaço pra eu olhar o dia acabar, a noite chegar e lembrar de como as coisas poderiam ter sido, se a gente não fosse tão cabeçudo (estou falando dela novamente, arquiteta, calma). Por que complicamos tanto as coisas que eram pra ser simples? Tem tanta coisa linda, aconchegante, funcional, integrada e, sobretudo, simples, como a casa container cujo projeto estou pedindo para a arquiteta... Por que, sua cabeçuda? Não reclame de eu te chamar assim, falo isso com carinho, na qualidade de cabeçudo-mor.
Sou advogado e trabalho, também, em casa, gosto de mesas espaçosas de trabalho. Gostaria de uma cama voltada para uma varanda, com o deck. O lugar para rede, fundamental, poderia ser na varanda, ou no teto, ou dois lugares para rede. Terei uma mini horta. Os cachorros ficarão no que sobrar entre o cercadinho da horta e das árvores. Tenho predileção por desenhar meus espaços futuros em guardanapos de papel, assim que eu fizer o que estou imaginando, eu colo aqui ou te mando.
Por ora é isso, além de editado, sinto que esse texto será aumentado.
E quanto a nós, eu lamento demais esse momento todo que não passa e penso que talvez um dia essa casa também possa vir a ser tua.

terça-feira, março 26, 2019

2019?