sábado, março 28, 2009

Eu nunca vou te deixar. Segura aqui a minha mão. Eu não vou deixar nada de mal acontecer. Sente a música, sente os acordes, sente as batidas, sente esse baixo. Ouve o que estou te dizendo. Vem, vamos seguir juntos, descansa um pouco que eu vou cortar esse mato. Vou tirar as pedras do caminho pra gente passar descansado. Toma essa água, está fresca, está boa. Vamos apertar o passo, quando a chuva começar, alcançaremos a gruta. Vê que sol. Lembra do barulho das ondas. Logo vamos a elas. Hoje o céu vai ser de estrelas, a chuva vai passar. Sente o cheiro da terra molhada. Esse é o melhor céu do mundo. Vou te ensinar a olhar a eclíptica. Vamos aprender juntos e reaprender a cada dia, a cada passo. Deixa eu acelerar o carro, finge que tá dormindo, eu corro acompanhando esses riffs doidos e você não me bronqueia. O próximo CD é seu. E assim vamos seguindo até voltar a Ushuaia, até chegar em Connecticut, em São José do Rio Preto. Me dá um biscoito de polvilho. Me dá um filho. Me dá essa mão pra eu beijar enquanto dirijo. Vamos caminhar pela areia até a aldeia dos índios. Vamos bater o côco verde no copinho de Netuno, na praia do Satu. Vamos desbravar o centro de Santiago. Vamos tremer de frios abraçados em Monte Verde. Me espera enquanto saio de madrugada na cidade deserta pra arrumar um acendedor de lareira e voltar com um pão duro de melhor efeito. Me dá outro biscoito de polvilho. Não precisa ter medo, eu estou te segurando, essa ponte balança, mas leva a gente pro outro lado do rio. Vamos dançar só essa, isso aqui é Noronha. Pára de rir de mim. Vamos subir de escadas um mês, pra treinar Machu Picchu. Esse peixe é o melhor do Brasil. Você vai comer o quarto filé? Como cabe tudo nesse corpinho? Não, não vou abraçar a árvore, não acredito nisso. Tá bom, vou abraçar só um pouco, mas vigia se ninguém está vendo. Essa noite é inesquecível (foi a última noite antes de eu saber sobre aquilo e minha vida mudar pra sempre). Nossas vidas mudam pra sempre todos os dias, a gente é que não vê. Tira essa com os pingüins ao fundo. Olha o golfinho! Olha o tucano! O jacaré! Passa sem fazer barulho, tem uma cascavel ali, fica calma que o guia está preparado. Era meu sonho de infância estar aqui. Vem tirar essa comigo, pega esse fundo aqui. Pára – de – rir – de – mim (pode continuar, vc fica mais linda rindo). Eu desenhava esses canyons na capa da dona benta da minha mãe. Sim, esses aí atrás de vc. Vamos dominar o mundo e conquistar todos os exércitos à nossa escolha, pra libertá-los. Dirige, que eu bebi demais. Pára esse carro. Aumenta o volume, essa é a melhor do mundo (assim como as outras 357, quando bebo). Olha bem pra essa cena, faz uma fotografia na tua mente. Quando eu estiver morrendo, quero que esse momento vá pro cineminha que dizem passar.

quarta-feira, março 04, 2009

Ontem saí com os novos amigos. ‘Novos amigos’ soa como novos baianos. Um dia todos meus amigos, todos, tinham nascido em 1975. Os que nasceram em 1974 eram pedantes e os de 1976 muito crianças. Ontem fiz um relatório de canto de olho na mesa do bar e contei os novos amigos por décadas. Os da década de 40, 50 e 60 não são pedantes e os da década de 80 não são muito crianças. Na mesa de bar, todos crianças, falando profundidades da vida e alguns de nós olhando as coxas das transeuntes. Não eu, é claro, que sou circunspecto. Ano passado decretei que não faria mais novos amigos. Não dou conta dos que já tenho, nessa vida loka metida a sofisticada high tech mainstream o raio que o parta. E ontem tomei café.
Fui caçoado até, tudo por conta da polissonografia proibitiva de álcool, a que me submeterei hoje à noite (Dio Santo, agora que me ocorreu, no hospital em que meu pai morreu, que bosta). Dane-se. Meu pai já tá num lugar legal, aprendendo coisas, proseando adoidado, se bobear voltou a jogar basquete, ele que foi vice-campeão paulista pela cidadezinha do interior. Caramba, pai, vc pode enterrar a bola, saindo da linha de três, pois o espírito não sofre a limitação do corpo. OK, no céu o basquete deve ter regras diferentes. Será que tem pimenta no céu? O siddartha era um leitor daqui (ainda é?), diz ele que tbm jogava basquete, mas ele é bichaloca, pq come pimenta biquinho, a que não arde, não enfrenta uma malagueta (antes que ele fique putinho, eu declaro devorar um vidro de pimenta biquinho no pastel e não gostar da malagueta). Tirando os novos amigos, o siddartha é meu amigo de infância mais recente, até apresentei o osnir pra ele.
E ontem tomei café e tomei suco de laranja. Porque vão me encher de eletrodos na cabeça e no peito e quando eu estiver totalmente vestido de frankstein, eles me deitarão numa cama fria e exortarão: dorme agora. Ô, pode deixar.

De resto, não poderia MESMO estar aqui, pois agora não tem mais desculpa. O vectra ainda não foi vendido. Penso que a consignadora espera pagarmos as três parcelas do IPVA antes. Não baixarei o preço. Penso em colocar um kit flex. O robinsom voltou do japão. ele jogava basquete comigo no elefantão, todo santo dia, antes de me boicotarem pelo futebol. ele me reconheceu, mas não quis dizer o "apesar de estar gordo e careca", isso eu li no risinho. Me vinguei sem querer com: meu, vc voltou do japão, que legal! e ele: sim, voltei em 1991. O robinsom é um velho amigo e hoje ele tem uma loja de som automotivo. Achei bacana o nome da loja: robinsom. Hã? Hã? O robinsom, da robinSOM ltda. (seus distraídos), tirou o som do Vectra e vai botar no carro da naninha.

O dono do café, que é um dos novos amigos, não cobrou meus cafés nem meus sucos de laranja, nem o waffle com sorvete de creme pelo qual novamente salivo. Almoçarei no lugar dia desses e gastarei muito, pra retribuir a gentileza e pq tudo lá é animal de bom.

Não, não farei as bobagens. Não nesse momento. Farei coisas boas, coisas passíveis de serem feitas, compatíveis e que deixarão todos felizes e satisfeitos. Desculpa. Me entenda. Goste de mim, desse jeito complicado e gente fina que sou, é o único jeito de ser que eu sei, ou pretendo saber, ser. Assim mesmo.