segunda-feira, maio 30, 2011

OUTONO VII - OUTONO, ENFIM.

Pus no shuffle e a música que o acaso escolheu foi Por Enquanto. Tinham 24 músicas contadas. A probabilidade é bem maior da que me faria milionário na loteria, mas fato é que a escolhida foi Por Enquanto.

Fiz algumas escolhas. E sabia que elas implicariam algumas renúncias. E que algumas dessas renúncias teriam a vontade de me dar um soco na boca, ou apenas ficar triste. Eu gostaria de manter tudo bem, sempre, com tudo e com todos, mas já notei a impossibilidade do fenômeno. Detesto escrever posts no word. Eles me soam fajutos. Suspeito firmemente ser a internet da tapera movida a querosene. Então, minha querida, me soque a boca, me embeba de querosene e me ameace com um fósforo, mas não fique triste não. Façamos um trato: não te peço mais pra ficar feliz por mim, em troca de vc não ficar triste, porque isso me é pior que bater no liquidificador as frutas com granola e querosene.

Eu sigo o meu Caminho de Santiago de Compostela em pensamentos, justo eu que os venho execrando, mas, sinceramente, me deu um canso. Utilizo-me de um cajado imaginário para fincar nos cascalhos, pra poupar os joelhos e suportar as incertezas.

Em realidade, penso que tomei de um dos meus diversos ipsilones (o profissional), cortei uma perninha e fiz um cajado. Não seria má ideia embeber no querosene alguma camiseta velha, daquelas que se usa quando febril e cheira, pois, a gripe, fincar na outrora perninha e fazer dela uma tocha pra me iluminar o Caminho.

Esse shuffle é tão viciado quanto um site de buraco online. Das vinte e quatro músicas, azulmente selecionadas, só toca Por Enquanto. Como não quero perder o fio da meada, assim como perco pessoas especiais nas bifurcações dos ipsilones, prefiro não reparar e ponho pra tocá-la de novo.

Acho que este é o final de um post necessário de desculpas. Pra torcer por mim posso pedir?

domingo, maio 08, 2011

OUTONO VI - Ela.

Comentei com uma amiga a bronca que dei na minha mãe, que não era pra ela querer ficar lendo esses textos que eu escrevo. Que tem coisas aqui que é tudo bobajada, mas - mães, me corrijam - parece não existir bobagem na vida de um filho, para uma mãe. No sentido de tudo ter um sentido e tudo ser algo sobre o qual deva ser passado um pano. Falei, de maneira bocó, que eu ia tirar tudo aquilo da internet e ela, firme (toda boazinha, sempre, mas não queiram vê-la firme, é capaz de te puxar pela orelha desde a sala de piano do vô até pra fora da cozinha falando que vc é o capeta do inferno...) e ela, firme, falou que não ia mais falar de textos, mas que eu ia prometer que não ia tirar um textozinho sequer da internet.
Contei pra essa amiga que faria então, um catadão de alguns textos e faria o gosto dela: "imprimiria" (ela quer o texto impresso, não gosta de ler no computador) alguns e daria de dia das mães, quando essa amiga falou: ah, seu tonto, porque vc não escreve um post pra ela?
E daí me pergunto: por que a gente tem vergonha de falar as coisas pros pais? Pro meu pai mesmo, só comecei depois que ele morreu!
A resposta imediata seria: ah, os pais mereceriam ver textos de verdade, não esses umbiguistas adolescentes de 36 anos. Mas suspeito que a resposta seja outra, vai saber.
Enfim, aqui vai a tentativa de post. O mais que pode acontecer é ser deletado, como tantos outros.
Delete, mãe, é uma tecla que apaga algo que vc escreveu (sacanagem com ela).
Minha mãe é uma das duas unanimidades da família: ela e o tio Liço. Três, com a tia Zélia. Ela vai odiar eu ter escrito isso, com acesso mundial (mal sabe que só vcs, meia dúzia de gatos pingados, leem isso, se ainda leem). Mas que saibam todos: todos nos gostamos muito na família, mas unanimide são apenas a tia zélia, o tio liço e a minha mãe.
Dia desses, enquanto ela chuchava o molho da panela com pão (isso se chama florear o post, mãe, vc devia estar beliscando a tirinha de kani enquanto papeava, mas não importa), eu disse que ela não tinha defeito e ela falou: imagina, sou cheia de defeitos! Eu: fala um. Ela não soube dizer!!! aheuahueah. Disse que não vai mais à missa!!! Gente explodindo bomba, roubando dinheiro da Saúde, abandonando recém-nascido, matando por pedras de crack e minha mãe não vai à missa.
Ela é a cuidadora. Quando perdeu a vovó Elza (eu tinha lances pra contar que iam fazer minhas três leitoras se debulharem em lágrimas), aos 14 anos, assumiu a casa, cuidando dos irmãos menores. Foi o mesmo ano em que começou a namorar meu pai (por iniciativa dela, sempre ressalta), quase 10 anos mais velho, formado ou se formando em Direito. Cuidou do pai, dos irmãos, depois do marido, dos filhos.
Cuidou da sogra, por dez anos e do cunhado, por seis. Minha avó, do post anterior, dormia nesse quarto onde hoje estou escrevendo. E lembro de vc, vó, antes, com as tranças nos cabelos, curvadinha, mostrando que sapos e lagartixas são bichos bons.
Quando meu pai ficou doente, lá estava ela. Eu me preocupava com ambos. E ela, firme (lembram da firmeza, do início do post? não serve só pra me chamar de capeta do inferno). O tempo todo, sem falhar.
Agora, cuida de nós. Eu falo que ela precisava cuidar dela agora. Que tinha que ir, sim, à casa da tia Beth, nos estados unidos, mas ela inventou esse providencial medo de avião, que não tinha.
Não quer também ir aos cruzeiros ver o show do Rei. Quer ficar sossegadinha no canto dela, feliz.
É animada.
Sarrista.
A brincadeira minha e do meu irmão, embora as regras nunca tenham sido declaradas, é tirar sarro um do outro na frente dela. Ganha quem fizer minha mãe não aguentar mais segurar o riso e gargalhar. Aí o outro fica furioso.
Ela é arteira.
Fez coisas que não ficariam bem num blog.
Ela me puxaria pela orelha até o oleoduto, se eu contasse.
Imita perfeitamente as pessoas (talvez com isso me puxe a orelha até a piscina, já).
Faz, obviamente, a melhor comida do mundo.
E o ovo frito perfeito, sem nenhuma casquinha em volta.
E os mingaus, os bolinhos de chuva e todo o mais. E não sabia cozinhar, aprendeu no Dona Benta, cuja contracapa guardou, por causa do meu primeiro desenho.
Destrói todos os meus medos. Quando falo algum que me dilacera, ela responde calma e verdadeira: "e daí, se isso acontecer?". Eu me exaspero e falo que ela não sabe do que está falando.
Mas sabe.
Eu é que preciso aprender.
Mas ela é professora. Então ela vai me ensinar. Desde os tempos das aulinhas no sítio, em que ia de charrete. Largou as aulas pra poder... cuidar. De mim.
Em vários posts falo do sangue que corre nas minhas veias, do Dr. Nelson, do Seo Ulisses, do Seo Galvão.
Que injustiça deixar isso implícito sempre, que sem a Dona Verinha, xé, coitado de mim.
Feliz Dia das Mães.
E, sim, todo mundo, no mundo inteiro, pode, em tese, ler isso.