sexta-feira, março 30, 2012

OUTONO II

Brindo o outono. Meio atrasado, é certo, em meio à turbulência, não é menos certo, mas sentindo-a diminuir. Sentindo aquele exato minuto em que você, sem guarda-chuva, debaixo de um toldo estreito onde esperou por meia hora o momento de continuar o caminho e, de repente, ainda que a chuva com vento não pare de todo, vc arrisca: "agora já dá". E assim começou o outono de 2012. Olhando pras poças formadas a intensidade dos pingos diminuir. 
Agora já dá. 
Vc sai e, em segundos, se sente sob uma monumental ducha corona (existe ainda?) pero fria. Não falo daquelas chuvas românticas em que pessoas giram de braços abertos sorrindo no campo ao som de um solo de violão, não. É a chuva que te separa do protocolo do fórum no último dia de prazo e, mesmo debaixo do toldo, teu sapato social com meia social fina parecem sandálias de esponja. 
Mas segue, até porque, depois que decide o agora-já-dá, não se volta pro toldo, parceiro (e a metáfora acertou, quem é da área sabe, tem o prazo...).
A minha corrida não é desabalada. Mas será contínua. Não sei o exato endereço do fórum. Mas trago comigo a petição. Aliás, petição vem dum pedir latino longínquo. Por isso, peço agora, vai, o que pediria daqui a uns parágrafos. 
"Excelentíssimo Senhor Doutor Leitor, de Qualquer Vara de Qualquer Comarca.
Processo nº 01/2012
Madureira, já qualificado, nos autos da ação de amizade em epígrafe, vem requerer se dignem Vossas Excelências, os Leitores, de apreciar o quanto deduzido abaixo, pelos motivos a seguir expostos. 
Dos fatos
1. Madureira sente-se feliz por possuir amigos verdadeiros e iluminados, os quais, em contato com um outro amigo muito especial, ainda mais iluminado, chamado José Tadeu Silva, ouviram deste um pedido.
2. José Tadeu Silva é terceiro nesses autos, mas não é interessado. Aliás, é sim, e muito. É interessado no amor, na caridade, na humildade, no bem e em tantas outras virtudes. Mas é desinteressado em qualquer benefício pessoal, já que, durante toda sua história de vida, vem trabalhando de forma incessante e abnegada em prol dos mais necessitados, criando em 1980 e conduzindo, desde então, as Obras Assistenciais Casa do Caminho, em Araxá, entidade filantrópica sem fins lucrativos.
3. Madureira perdeu a conta de tantas vezes já ter visitado a Casa do Caminho, acompanhado dos seus amigos acima mencionados, tendo saído de lá com indescritíveis leveza e ânimo.
Do Pedido
4. Pelos motivos declinados, aliados à total e irrestrita confiança que sente em Tadeu e em seus outros amigos, que formam a FIC, Fraternidade Irmãos do Caminho, Madureira vem requerer a Vossas Excelências a adesão à campanha para arrecadação de Latas de Óleo e Arroz, em prol das Obras Assistenciais. 
5. Tais alimentos servirão para a nutrição física dos mais necessitados e, sobretudo, ao alimento espiritual de quem se dispuser a destinar tais produtos, à Casa do Caminho.
6. Madureira dispõe-se a buscar os produtos no local onde Vossas Excelências indicarem. E pagará um café com prosa.
7. Por fim, indica o endereço virtual da entidade: http://www.casacaminho.com.br/. Vale a pena conhecer o trabalho.
Nestes termos,
P. Deferimento.
São Paulo, 30 de março de 2012.
Madureira".

É assim, gente, que passo a correr sob a chuva. Buscando os conhecimentos mais variados, olhando mais pra fora e também pra cima, onde vejo as nuvens ficarem mais brancas e já sentindo a presença do sol. Valeu.


terça-feira, março 27, 2012

OUTONO I.

É complicado. Com o turbilhão de emoções dos últimos dias; com o potencial explosivo dos atos que podem acontecer nos próximos; com o aumento da responsabilidade numa velocidade crescente, estudar cinco horas depois de trabalhar outras nove é complicado. Saber que estou uma semana atrasado nesse ritmo forte, ou seja, deverão ser 10 horas em vez de cinco, até ficar em dia e normalizar, assusta. Por outro lado, enquanto estudava, a mente estava tranquila. E o fato de estar acordado até agora, ter produzido e acertado todas as questões do minissimulado dá ânimo. Uma mensagenzinha curta e singela no meio do furacão: "considero sua dissertação satisfatória e apta para defesa pública". Fiquei olhando uns 10 segundos o visor do celular e lembrando de tudo o que passei para receber essa mensagem. E nem cheguei ao final. 
E, com tudo isso, só agora me dei conta que é outono. Uma semana depois. Isso é que me deixa mais pensativo (não, não é).
Receber teu e-mail de hoje foi um bálsamo.
"Toda positividade, eu desejo a você".
Nesse outono e sempre.

domingo, março 25, 2012

Está difícil. Você poderia me perguntar por que eu digo aqui estar difícil. E não num e-mail, por exemplo. Porque aqui sempre foi e é o rio onde jogo minhas garrafas com mensagens dentro e vejo-as indo, indo, sumindo. Se eu te mando um e-mail, você será quase obrigada a ler. Aqui, depende apenas da tua vontade saber. Fica tranquila, porque quase ninguém lê isso aqui e, pra quem não nos conhece, parece tão comum, que não vai repercutir. Você me disse que vinha ler nas últimas semanas. Se não ler, não tem problema, a garrafa segue o curso no rio. Outras pessoas podem até olhar o conteúdo, mas não poderão fazer nada a não ser deixá-la seguir esse curso. Você é a única que pode ler e entender tudo. E deve se perguntar: por que ele está fazendo isso? Não sei bem, também. Talvez pra que vc confirme que não está sendo difícil só pra vc.  Está muito mais difícil do que da primeira vez. Estamos, de certa maneira, juntos nesse momento que queremos passe logo, porque eu sei que vc quer a minha felicidade tanto quanto eu quero a sua. De que maneira for. 
Seguro os meus ímpetos, pra não ser moleque, leviano, não te fazer mais triste do que estamos. E nisso também combinamos: não somos de curtir fossa. Reconhecemos o momento e seguimos nossos rumos, de acordo com os nossos valores, com a ajuda das nossas pessoas mais queridas.
E eu tenho tanta saudade das pessoas queridas que estão aí desse lado... vai chegar o momento em que eu falarei com eles e exporei o que estou sentindo, em relação a eles todos. A sensação de gratidão, de carinho, de reconhecimento, de saudade. 
Não nos arrependamos de ter tentado de novo. Vivemos muita coisa boa, mesmo nesse curto período. 
O silêncio e a distância muitas vezes, como agora, me sufoca. Mas seguro a onda, porque sei que é melhor pra nós dois. Não vem ao caso dizer aqui tudo o que já nos dissemos. Mas tudo ainda é válido, especialmente no último telefonema. 
Hoje eu não tive condições de ir à festinha das meninas. Não sei se você foi. Mas eu não estava preparado pra rever as pessoas, responder às perguntas, aceitar os abraços. Pedi desculpas a eles e fiquei. Espero que tenha se divertido, caso tenha ido. Espero e desejo muita coisa boa pra vc, vc merece o que o mundo tem de melhor, o que as pessoas têm de melhor, você merece simplesmente o melhor. Vc sabe disso. 
Caso leia isso, mande seu comentário numa garrafinha também, ele não é publicado diretamente, depende de mim e eu não vou publicar, por saber que vc não quereria. Eu recebo e guardo. No meu arquivo e no meu coração.
Que você tenha toda a felicidade do mundo. De coração.

sexta-feira, março 16, 2012

Carta a você.

"E que amo, amo. E pra sempre vou amar. E se você que estiver lendo for outra mulher, saiba que isso nunca vai mudar. Mas eu preciso ver de que jeito é. Porque ela merece o tudo e se o tudo eu não tiver pra dar, com dignidade terei que me retirar". São Francisco Xavier, 10.3.12.
Nosso telefonema confirmou o que já entrevíamos. 
Acalmamos nossos corações, embora num primeiro momento tudo fervilhe e gire. 
Acalmamos. 
Acalmamo-nos. 
Você é a melhor mulher do mundo. 
Uma vez eu disse isso aqui e vc pediu pra retirar. 
Pode pedir de novo, dessa vez eu vou deixar. 
Você é a melhor mulher do mundo. 
Todo o conversado ficará guardado entre nós dois, não vem ao caso dizer a mais ninguém. 
Todos os momentos vividos, eles são nossos. 
Somente nossos. 
Nós conquistamos e construímos esses momentos todos. 
Será uma lembrança? 
O que será? 
Não sabemos. 
Como vc disse: a vida nos responderá. 
Mas já podemos responder uma coisa, antes mesmo de perguntarmos: foi muito bom. 
Apesar dos motivos que culminaram com essa carta a você, assim, de longe, foi, de longe, muito, muito bom. 
Cresci demais com vc. 
Imagino que vc tenha crescido um tantinho assim comigo. 
Nosso amor não morre, ele se transforma. 
Transformou-se em algo que um dia saberemos bem identificar. 
Choremos o que tivermos pra chorar, mas eu quero ver - e verei - logo, logo esse sorriso aberto no teu rosto lindo, tua principal característica, que faz de você, única. 
Essa carta é tardia? 
Aparentemente, sim. 
Por outro lado, sempre é tempo de dizer as verdades. 
E a verdade é que vc é a melhor mulher do mundo. 
Conte sempre comigo. 
Desde o momento do polegar dobrado na casa da Gi até o futuro ainda desconhecido. 
Se falhei muitas vezes até aqui, nessa nova condição tenho a capacidade de te ser pleno. 
E vou ser. 

domingo, março 04, 2012

Acontece que...

Aconteceu uma coisa
E outra coisa aconteceu
Quando disse: a outra coisa aconteceu
Aquela coisa já tinha acontecido
Quando tentei dizer o acontecimento da coisa
Já tinha dito que a outra coisa acontecera
E como acabei não dizendo que a coisa aconteceu
Ficou o dito pelo não dito
As duas coisas acontecidas
E uma só dita
A falta de sincronia entre quatro elementos:
a coisa, a outra coisa, o dizer e o não-dizer
Rearranjou tudo
Como tinha de acontecer.

sábado, março 03, 2012

INTRODUÇÃO PARALELA

O presente trabalho tem por objetivo... o caramba. Não posso falar aqui o objetivo do trabalho, que também não está presente aqui. Haverá uma introdução paralela oficial, quando eu defender a dissertação de mestrado em banca. Enquanto isso, a introdução paralela terá de ser um tanto obscura, outro tanto difusa. Ops, difusa, dei dica.
Quando imaginei o tema, antes ainda de conversar com o orientador, eu vislumbrava um círculo virtuoso, já que a primeira aula que dei para uma faculdade foi numa de turismo. Muita água rolou debaixo da ponte, até que fui pro processo civil, pro processo coletivo (ops, outra dica), pro direito urbanístico, pro direito ambiental (cala a boca, madureira!) e então, com esse tema, eu enfiaria tudo num mesmo balaio e faria o, por ora apenas induído, direitomadureira.
Insta esclarecer (é uma introdução paralela de dissertação de mestrado, cazzo, insta esclarecer dá bons fluidos) que a única coisa que sei fazer de maneira decente na vida é me expressar pela escrita. Escrevo legal, sei disso (e não to falando do blog, é escrita instrumental, pro trabalho, mesmo). 
E justo aquilo que sei fazer bem, na dissertação de mestrado, deixei de fazer. Bloqueei.
Só faltou macumba.
Eu tentei de tudo: análise lacaniana, psiquiatria, holística, neurolinguística, classificação yungiana, leader trainning. Sacrifiquei férias, tirei licença-prêmio, fins de semana incontáveis. 
Nesse meio-tempo meu pai morreu, meu vô morreu, me divorciei, voltei, tive crises, sarei, e nada.
Só-fal-tou-ma-cum-ba.
Porque, antes disso, resolvi fazer terapia cognitiva. E num segundo mês (tinha feito 145 páginas de texto durante a licença-prêmio), eu terminei o famigerado último capítulo.
E há cerca de vinte minutos, enviei a dissertação para meu orientador. 
Isso virou só um post mesmo. Eu tinha uma ideia legal para essa introdução paralela. Mas deu preguiça.
Estou em Socorro, na casa do vô Ulysses, que saudade dele. Há anos atrás, meu avô estava sentado naquela poltrona dali da direita e eu contei pra ele que iria fazer o mestrado. Ele ficou feliz, deu parabéns. Estava bem, meu avô. Agora eu to aqui na casa dele, contando que, ufa, entreguei. Mesmo que tenha alteração, mesmo que me ferre na banca, eu terminei.
FIM.