Esse aqui foi escrito em 06.02.2008.
E seus comentários são utilizados pra diálogos estranhos em inglês, ao que parece, por gente estranha e esquisita. Cansei de deletar os comentários, então deleto o post. Vamos ver o que eles fazem.
Dois parágrafos muito bem escritos, modestia às favas, acabam de ser deletados. Desejo de enxugar, pois o assunto é longo.
O tempo passeia ao lado de uma crescente mania minha: a de um certo exclusivismo. Toda viagem é dupla, pois justamente viajar é a intenção de exclusividade por excelência, na medida em que nos destaca do nosso contexto e, fatalmente, cria dois caminhos: o roteiro em que se passeia pelo planeta e a trilha interior, pela qual se conhece um pouco mais. E já vamos nos estendendo novamente. Enxuga.
Passeei um dia de domingo quente pelo chão de Buenos Aires. Frui a feira de Santelmo e lá comprei um livro. O resultado, exclusivo, é que, antes da página escrita em três linhas, mecanicamente assim: "biblioteca. gabriel garcía márquez. El amor en los tiempos del cólera", ele leva outra, em cinco linhas assim manuscritas: "(minha assinatura). feria de santelmo. 13/01/2008. 20 pesos igual mais ou menos18, pechinchando)".
Num outro post descreverei a delícia de pensar no passado de um livro comprado em sebo. Neste post, conto que, semanas antes, assisti ao filme inspirado no livro. Aliás, repito, porque sobre o filme já escrevi.
Na saída do cinema, comprei o livro pro golb. E como só tinha dinheiro pra um, esperei a oportunidade de comprar o meu. Melhor não poderia ter sido. Na Plaza de Mayo comecei a lê-lo (exclusivismo) e foi difícil parar. Esse livro foi saboreado. Página por página, parecido como Florentino Ariza meticulosamente viveu sus cincuenta y tres años, siete meses y once días con sus noches para realizar o seu sonho. O Golb estranha que GGM consiga criar de um jeito tão realista personagens, lugares, épocas, acontecimentos. Isso pq ele ainda não se deparou com os Buendía dos Cien años de soledad. Mas vai se deparar, e por um só motivo. Porque é bom. É gostoso ler Gabriel García Marquez e exclamar um putaqueopariu a cada cinco ou seis, das quase quinhentas páginas dessa história densa como um anisado de Fermina Daza. É muito gostoso perceber os ângulos pelos quais GGM introduz a cena seguinte, sem terminar a anterior. Esse livro é cinematográfico. Dez páginas de um mini-universo autônomo, separado da história, preparam sem nos deixar perceber a entrada de um personagem. Cento e vinte páginas depois, uma breve lembrança daquele universo, apenas para prendê-lo à história, como que agradecendo por sua serventia. El doctor Juvenal Urbino na verdade tem a força de um vértice triangular, o que não se passou no filme. Mas se em vez de vértice, for lado, temos um triângulo escaleno, com dois lados monumentais, pesando-lhe os ombros e as pernas que lhe falharam no momento da captura do loro. Que legal é ler nome e sobrenome do personagem a cada parágrafo. Que legal é a solidez e intensidade de cada figurante, dá pra gente tocar quase. Que gostoso é se deixar conduzir pela história, desbravar as páginas, as intenções, imaginar as cenas sutis e sem explicações, como se o diretor se deixasse filmar como coadjuvante, ao fundo. Como a velhinha do carrinho de supermercado de kieslowski. Ah, se eu pudesse, eu recomeçaria a ler agora mesmo. E aqui eu me arizo daqui a cinqüenta anos, se ainda estiver vivo, prometo reler, como se estivesse sob un juramento de mi fidelidad eterna y mi amor para simpre.