sexta-feira, dezembro 09, 2011

Dia desses, ouvi o termo "telúrico" com a mesma precisão usada por Erico Verissimo ao descrever o velho Babalo. Dizer aqui que ouço edward sharpe no repeat (Home) me faz lembrar imediatamente da maior frequência das minhas pesquisas no google: "área rural em atibaia"; "área rural em jarinu"; "área rural em piracaia". Quando postei isso no face, vieram várias ofertas de casas de campo, com churrasqueira e varanda, com fácil acesso à rodovia. Não soube direito me desculpar com os amigos ofertantes, mas hoje diria simplesmente: mal aí, mas tais casas não me saciariam o premente desejo de ser telúrico. Sinto a pontinha de culpa inexplicável do Rodrigo Cambará, por ser tão afeito ao iphone, ao speedy, ao cinemark, quando sei que minha raiz (de mais longe) me puxa pra terra a ser cultivada. Minha raiz direta, por sua vez, é a evidente em quase todos os textos disso aqui. São as bolinhas de gude, as figurinhas, a caloicross (extralight, só no msn), os canários e todo o resto. O que não deixa de tornar tudo meio telúrico também. Se minhas pipas voavam no céu, meus pés fincavam o chão. E vêm os meus projetos, desejos, materiais e imateriais: quero aprender a pintar, desenhar, cantar, fotografar, andar de moto (acho que já escrevi tudo isso dois posts abaixo, mas dane-se), saltar de paraquedas, quero fazer uma viagem de aventura anual, nos moldes da que fiz esse ano, quero um gps offroad, um violão elétrico de músico profissional, quero, sim, minha área rural, quero minha casa de vidro, quero cuidar com todo o carinho dos meus Big Four, eu quero muito muitas coisas e é muito bom começar a tarde assim, querendo, olhando pro céu de chuva enquanto digito, graças à datilografia do senac, suspirando e meneando a cabeça de olhos fechados, ao som de Home, graças à mesma datilografia, com a certeza de que não vai ter uma letrinha errada (viu só?), lembrar da minha afilhadinha que cresce aqui no bairro ao lado e descobre o mundo dia a dia, mirar no exemplo da afilhadinha e ter a ideia (já posta em prática, de imediato) de ter uma sexta-feira, aos 36, como se tivesse quase 3, indo ao tribunal distribuir o recurso como se visse pela primeira vez a patinha de um jabuti. Maria, o dindo te ama e se esse texto não se perder, vc vai saber um dia (ouvindo edward sharpe, faz favor), que desde sempre alegrou a minha vida.

domingo, dezembro 04, 2011

Para o Allan

Losangos grená no fundo cinza, sim, senhor! Vai dizer que a gravata não é bonita?? hehe.

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quinta-feira, dezembro 01, 2011

Faria um texto pra treinar tempos verbais, enquanto tentasse baixar a música que ouviria naquele momento. Uma vez mais fracassaria, o site do torrent, por seu nome, pizza.torrent, só teria me dado novamente vontade de comer pizza. Lembraria então de muitas vontades, como a de viajar para Atibaia, também naquele exato momento, não fosse a sequência de compromissos que me impediria. É muito impedimento poder escolher dois tempos verbais, impediria e impediriam, minha busca seria me desimpedir de vários fatores, vários vários fatores. Comeria um iogurte enquanto raciocinaria entre uma ação invisível e elevada para a recondução do planeta ao seu eixo, real e figurado ou, então, se as corjas de corrupção, violência e barbárie grassariam. Aquele exercício não daria muito certo, pois eu apenas mudaria o presente para o futuro do pretérito, em todas as ações do texto.
Então eu paro. E danem-se os tempos verbais, eu me interesso mais é pelos tempos atuais. Os tempos atuais soam muito jornal nacional, nem isso, soam final de fantástico, antes dos gols da rodada, no máximo soam um globo repórter e toda a tristezinha adjacente por estar em casa em plena sexta, enquanto os tempos atuais fazem o mundo - e a sexta-feira faz a cidade - fervilharem.
Então é isso, m'ôquirido e m'aquirida: meus quânticos e mentais saltos entre a sexta e o tempo todo; o mundo e a cidade. E daí a inevitável lembrança: tudo é Um só. Chorão fala ser tão natural quanto a luz do dia; Tatá sugere dar uma nela; Nando Reis informa que as aeronaves seguem pousando; o rapazinho do coldplay conta que ele know the sun must set to rise e assim está formada a trilha das duas últimas semanas, maldito site com nome de pizza que me dá fome e não funciona. Pausa.
Ajeitou o nó de sua gravata de poucos e pequeníssimos losangos grená espalhados no fundo cinza. Sorriu ao lembrar que desde os longínquos tempos em que era procurador municipal, já gostava de gravatas daquele tipo, era o seu desimportante segredo: só comprava as poucas gravatas que chamavam atenção e eram discretas ao mesmo tempo, não sabia explicar. Passou a vista em 360º à sua volta, acima e abaixo, aquele céu alaranjado de fim de dia, aquele prenúncio saboroso, olhou suas mãos envelhecidas, sulcadas e cheias de pintas, que finalmente aprenderam a tocar violão, ele já nem tinha tanta esperança. Passou ambas em seu cabelo, a tecnologia farmacêutica havia permitido manter seus fios sem a necessidade de implantes mas, ainda assim, preferira manter a dignidade de tê-los grisalhos. Perfumou-se e flutuou para o ambiente ao lado. A cortina de cristais cumpriu sua costumeira melodia e ele pode vê-la naquele sorriso que se manteve pleno por todo o tempo, entrecortado pelas lágrimas que o mesmo tempo naturalmente impôs. Sentada em sua penteadeira, ela que nunca demonstrara a vontade de ter uma, agora se divertia com seus pequenos objetos bem ali dispostos, representativos de sua personalidade e gostos; ela ergueu a cabeça e convidou-o com os olhos para reverem juntos suas fotografias. E todos os lugares que os tempos permitiram-nos visitar estavam gravados ali, nos papeizinhos coloridos, nem toda a tecnologia supera o prazer que alguns objetos e seus antigos nomes proporcionam: fotografias. Pediu-lhe para ajudar com seu colar de pérolas, já que se permitiu aquelas novas vontades e interesses, somados aos anteriores. Perfumou-se também e estendeu-lhe a mão, para que a conduzisse. E então estavam já num salão infinito e obviamente sem paredes e cobertura, senão os sóis, que emprestavam suas luzes sem disputas. Tudo era luz, das mais diversas matizes e intensidades. Fluturaram dançando; sim, aprenderam a dançar com a graça que a natureza dos corpos em comunhão com os sons permite, ao largo dos cursos de dança de salão. Todos estavam lá e todos celebraram juntos. Valsaram até os sóis se retirarem em descanso, para o recomeço dali a poucas horas.
Fim da pausa. Acho que era isso, o que queria ter falado hoje era a pausa em si.
Bom dia a todos, no dia que lerem isso.
Terei meu bom dia agora.
This could be paradise.