quinta-feira, dezembro 01, 2011

Faria um texto pra treinar tempos verbais, enquanto tentasse baixar a música que ouviria naquele momento. Uma vez mais fracassaria, o site do torrent, por seu nome, pizza.torrent, só teria me dado novamente vontade de comer pizza. Lembraria então de muitas vontades, como a de viajar para Atibaia, também naquele exato momento, não fosse a sequência de compromissos que me impediria. É muito impedimento poder escolher dois tempos verbais, impediria e impediriam, minha busca seria me desimpedir de vários fatores, vários vários fatores. Comeria um iogurte enquanto raciocinaria entre uma ação invisível e elevada para a recondução do planeta ao seu eixo, real e figurado ou, então, se as corjas de corrupção, violência e barbárie grassariam. Aquele exercício não daria muito certo, pois eu apenas mudaria o presente para o futuro do pretérito, em todas as ações do texto.
Então eu paro. E danem-se os tempos verbais, eu me interesso mais é pelos tempos atuais. Os tempos atuais soam muito jornal nacional, nem isso, soam final de fantástico, antes dos gols da rodada, no máximo soam um globo repórter e toda a tristezinha adjacente por estar em casa em plena sexta, enquanto os tempos atuais fazem o mundo - e a sexta-feira faz a cidade - fervilharem.
Então é isso, m'ôquirido e m'aquirida: meus quânticos e mentais saltos entre a sexta e o tempo todo; o mundo e a cidade. E daí a inevitável lembrança: tudo é Um só. Chorão fala ser tão natural quanto a luz do dia; Tatá sugere dar uma nela; Nando Reis informa que as aeronaves seguem pousando; o rapazinho do coldplay conta que ele know the sun must set to rise e assim está formada a trilha das duas últimas semanas, maldito site com nome de pizza que me dá fome e não funciona. Pausa.
Ajeitou o nó de sua gravata de poucos e pequeníssimos losangos grená espalhados no fundo cinza. Sorriu ao lembrar que desde os longínquos tempos em que era procurador municipal, já gostava de gravatas daquele tipo, era o seu desimportante segredo: só comprava as poucas gravatas que chamavam atenção e eram discretas ao mesmo tempo, não sabia explicar. Passou a vista em 360º à sua volta, acima e abaixo, aquele céu alaranjado de fim de dia, aquele prenúncio saboroso, olhou suas mãos envelhecidas, sulcadas e cheias de pintas, que finalmente aprenderam a tocar violão, ele já nem tinha tanta esperança. Passou ambas em seu cabelo, a tecnologia farmacêutica havia permitido manter seus fios sem a necessidade de implantes mas, ainda assim, preferira manter a dignidade de tê-los grisalhos. Perfumou-se e flutuou para o ambiente ao lado. A cortina de cristais cumpriu sua costumeira melodia e ele pode vê-la naquele sorriso que se manteve pleno por todo o tempo, entrecortado pelas lágrimas que o mesmo tempo naturalmente impôs. Sentada em sua penteadeira, ela que nunca demonstrara a vontade de ter uma, agora se divertia com seus pequenos objetos bem ali dispostos, representativos de sua personalidade e gostos; ela ergueu a cabeça e convidou-o com os olhos para reverem juntos suas fotografias. E todos os lugares que os tempos permitiram-nos visitar estavam gravados ali, nos papeizinhos coloridos, nem toda a tecnologia supera o prazer que alguns objetos e seus antigos nomes proporcionam: fotografias. Pediu-lhe para ajudar com seu colar de pérolas, já que se permitiu aquelas novas vontades e interesses, somados aos anteriores. Perfumou-se também e estendeu-lhe a mão, para que a conduzisse. E então estavam já num salão infinito e obviamente sem paredes e cobertura, senão os sóis, que emprestavam suas luzes sem disputas. Tudo era luz, das mais diversas matizes e intensidades. Fluturaram dançando; sim, aprenderam a dançar com a graça que a natureza dos corpos em comunhão com os sons permite, ao largo dos cursos de dança de salão. Todos estavam lá e todos celebraram juntos. Valsaram até os sóis se retirarem em descanso, para o recomeço dali a poucas horas.
Fim da pausa. Acho que era isso, o que queria ter falado hoje era a pausa em si.
Bom dia a todos, no dia que lerem isso.
Terei meu bom dia agora.
This could be paradise.


1 Comments:

Blogger Allan Robert P. J. said...

Nem toda a tecnologia é capaz de nos ajudar com os tempos verbais, mas gravata com losangos grená?
:)

5:43 AM  

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