domingo, janeiro 09, 2011

Procurava concentrar-se em seus sentidos.
Os passos, um após outro, um após outro, um após outro; a subida dificultava a respiração; as sandálias na viscosidade fria do chão úmido; milímetros de seu manto deixados a cada espinho; a firmeza da palma de sua mão no cajado; ali havia realidade suficiente para afastar suas angústias. A chuva aumentava e ela estaria do outro lado do mundo olhando o campo verde naquele exato instante, da janela, sabendo que ele não apareceria. Um guia local se despedaçava precipício abaixo e ela ria, três meses antes, próxima ao fogo, a ponta de seus cabelos roçando-lhe o rosto. Um trovão assustava os animais e ela enfim desaparecia.
Na iminência de ela reaparecer - e ela sempre reaparecia - no minuto seguinte, procurou concentrar-se em seu sangue.
Sabia que o sangue era bombeado pelo coração e lembrava de todos os movimentos: pulmão, coração, resto do corpo, coração, pulmão. O oxigênio daquelas terras novas curariam os acontecimentos; devolveria seu carbono para as matas, para o sem fim dessas matas, para o sem fim.
Não choraria.
Seu sangue poderia ser espalhado pelo chão daquelas matas a qualquer momento, por algum nativo, por algum animal, por algum violento remorso. E então não haveria mais por quês. Sim, poderia ser verdade, não se tratasse dele.
Ele chegaria ao seu destino.
(continua...)

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

A sua melhor amiga quer um post de aniversário. Pronto, falei.

12:40 PM  

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