segunda-feira, agosto 03, 2009

CHUVA

Fabiano Alcântara Ferreirinha me atendeu o pedido. E fez o texto da chuva. Tinha feito antes, mandou no e-mail que não abro. Agora conversei com Mané Rei. E ele brindou com a parte final desse aqui. Eita, a felicidade.

***

Eu desviava das pessoas e tentava não sentir a chuva e queria que parasse o barulho todo todo o barulho eu queria enfim era ter ficado mas algo me impeliu e por isso eu andava e então eu lembrava e o que eu podia fazer senão implorar por mais barulho por mais pessoas e carros dos que eu pudesse me desviar e eu bebia a chuva e já eu era a chuva e queria apenas escorrer e ser líquido pó etéreo alma me desfazer e nunca mais saber ou entender.

E você em sua crueldade era todos os carros e pessoas e sons os mais diversos era até você que eu ia e o caminho não tinha nunca teve fim.

Você me veio fácil e mais fácil eu te perdi você está onde agora vc realmente existiu não não nem vem vc não existiu eu agora corro e são apenas carros são pessoas é a chuva é deles que eu corro eu corro só de coisas reais de você eu não corro você não é nem nunca foi você é apenas o que poderia deveria ter sido você nunca será.

Então por que eu corro por que eu já morro por que eu sinto a presença da morte ao pensar em você se você não é?

Moço, me dá um café, moço. As pessoas apostavam em mim, o senhor sabia disso? Para aquelas pessoas, eu teria dinheiro suficiente pra quantos cafés quisesse, em padarias muito mais relevantes que a sua, eu teria trocos pra comprar um cafezal e te pagaria, moço, eu compraria essa espelunca só pra te despedir. Você não é nada nem ninguém pra falar nesse tom comigo. Eu estive quase lá, saiba bem o senhor. E agora eu tenho que estar aqui e estou. Não se nega um café a quem tanto deseja dormir. Não se nega. Me dá um café, moço, me dá.

***

Irmãos das estrelas

Lá fora, chove. Os gatos passeiam pelos canos. As gotas escorrem, cada uma no seu tempo, poliritmia. Enlouquece o relógio que derrete como plástico. O tempo está morto.
Tanta água na cidade, tanta eletricidade que é como se você estivesse de frente para o mar. Íons são liberados, o sinal de rádio passeia com limpidez, você olha pela janela do carro e vê um desenho impressionista no pára-brisa. A chuva escorre como mercúrio, formas são criadas e desaparecem em seguida.
Nos conhecemos desde o tempo das estrelas, lembramos do futuro com flashs delineados por neon. Pensamentos tornam-se hologramas, ouve-se um ruído branco subindo pela rua até o alto dos prédios. O skyline tremula. Helicópteros se jogam no vazio.
O ruído vira um som harmônico. Se esta música tivesse uma cor, ela seria lilás. A chuva lava a cidade como guache. E não resta mais nada atrás ou dentro nas nuvens. Só o vazio.

3 Comments:

Blogger AdriB. said...

Vim te deixar um beijo e perguntar se tu tá vivo, mas pelo visto ainda foi visto com vida aqui na net pelo dia 03 do mês corrente.

Se tu não der sinal de vida faço como fizeram com o Belchior e tu paga o maior micão!! Sim, isso é uma ameaça!! srrsrsrsrs

bjãoooooo

10:10 PM  
Blogger Vica said...

Ele é bom, hein?

9:39 PM  
Blogger Madureira said...

Para de comer cabelo, doida.

9:39 AM  

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