Há cinco anos e meio eu saía à varanda numa noite fria, fumava um cigarro de palha e dizia pra mim que esse era, então, o meu reino. Começava um novo trabalho e o meu casamento, morava numa casa nova, pensava no meu passado e em minha família e nada me faltava.
Cinco anos e meio e quase nada me falta. Mas o que me falta, falta demais. Hoje não posso telefonar para meu pai e falar com ele sobre nosso assunto predileto: a vida. Hoje meu pai vive em outro lugar e a possibilidade de ter-me sido dada a convicção disso me dá paz e alegria.
Hoje meu avô cavalga em outros sítios e ara a terra para outros cafezais (feliz aniversário, vô). Ele não teme mais a geada, ele apenas colhe e vê colhida a boa safra que plantou.
Hoje lanço a eles mensagens em garrafas, iguais às que lançava no Rio do Peixe quando pequeno, para outras civilizações.
Hoje eu não fumo mais cigarros de palha e olho para esses cinco anos e meio e vejo o que fiz e deixei de fazer.
Meu pai me confirmava que a história é uma espiral helicoidal, pela qual, de tempos em tempos, aparentemente voltamos ao mesmo ponto, agregados porém de tudo o que a vida durante os tempos nos proporcionou.
Hoje eu volto à varanda na primeira noite de inverno de 2009 e me vejo agregado de saudade, de experiências (erros, também, e não poucos) e da felicidade de ter voltado a uma única vida, a minha própria, real. Daqui a pouco tempo mudarei de reino, mudarei de varanda em noites frias, mudarei minha vida e levarei comigo tudo isso que a vida nos tempos me proporciona.
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe.
Hoje finalmente recuperei meu reino.
Vida certa ao rei.
2 Comments:
chico bento batuta esse.
belissimo texto.
braba
Lindo,como sempre!
Dévalgada
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