quarta-feira, outubro 28, 2009



















Parte I.
Jurandir chegou. Oito e quinze, aquele atrasinho baba (marcado pras sete e meia), chegou com seu inquebrantável (aú) bom-humor.
Jurandir é o caipira atual. Se ele ouvir isso, vai pensar que é 'xingo', mal sabe Jurandir que eu louvo o caipira e entendo-me um deles.
Pena que não sei pôr audio, minha mãe fala que imito igualzinho o Jurandir. Um estrangeiro (vale dizer, paulistano, carioca ou gaúcho) talvez não entenda uma palavra do que Jurandir fale: "aooonerzim, bãozim, dáresvriad, dá? ah, é rrrrriniti, mudaodempu adaga a gendi messs..."
Caipira atual pq anda de honda biz (e pra eu entender honda biz?) e tem a atávica preguiça que ataca a gente, que nem rrrrriniti na poeira e que aumenta seu almoço pra duas horas e faz com que vá embora quatro e meia.
Minha mãe e os utilitaristas republicanos condenam Jurandir por esse desvio, eu rio e enalteço o aspecto cultural (republicanos no mau sentido messs, ianque, embora dona verinha seja tranquilex nesse ponto, só quer ver sua casa consertada).
Jurandir é o faz-tudo aqui de casa. Uns oito anos atrás, veio uma equipe com seus aparelhos emprestados de filme de espião, para rastrear e solucionar um entupimento. Jurandir nesse dia magoou. Estava com seu pincelzinho dando um retoque na ferrugem causada pelo mijo do cachorro, quando a equipe assomou ao portão.
Discreto, ouviu o líder sentenciar que deveríamos quebrar o piso da sala, por onde devia haver uma caixa de inspeção (?), a fim de que os cocôs à fossa fossem. E ouviu o absurdo preço do orçamento. Deixou-os ir embora e, magnânimo, dada a preterição, diagnosticou em seu dialeto: "uh, donavera, zi a zinhór vala breu, eu disintupo, brezisa guebrar nadanão, a caixina de insbezão dálí no cantim, óizó bra zinhór vê".
Jurandir, mais uma vez, fez o serviço, incluído no preço da diária.
Minha mãe fala que Jurandir me adora e fala bem de mim, em seu dialeto. É porque eu compreendo o Jurandir, mais que seu dialeto. Se bem que ele também adorava meu pai, embora travasse diante dele, o que diminuía ainda mais a paciência de meu pai.
Meu pai nunca entendeu pq nós gostamos tanto do Juranda. Mas é que ele, meu pai, infelizmente não pôde conhecer o Jurandir, pelo só-fato de Jurandir travar diante de si. Medo mesmo, sei lá. Não conseguia raciocinar. E meu pai explodia, quem me viu na mesa de bar não aguenta mais eu contar da cena: Jurandir, A LATA, ESSA LATA, NESSA PAREDE. A OUTRA LATA, NA OUTRA PAREDE, ENTENDEU??? E Jurandir travado, movimentos hipnóticos, sem raciocinar, querendo sumir dali. E trocou as latas, as paredes e meu pai ficou putíssimo e mesmo assim continuou a contratar o Jurandir.
Pq, afinal, o Jurandir é o nosso herói de seriado americano vintage.