terça-feira, abril 21, 2009

Plim

Pra um cara que chora com o arquivo confidencial do faustão, não é inacreditável ver sua vida retratada numa comédia dublada com o adam sandler na tela quente. Não foi nem a zappa, foi a madre edith quem me falou que o romântico é aquele que pinça da dita realidade concreta conexões que imagina ter com o seu estado de espírito, ainda que esta realidade passe entre a novela das oito e o jornal da globo (o final sou eu quem digo, tadinha da madre). E esse, voilà, é o meu lado reginaldo rossi.
Não estou mal, conquanto me lembre agora que sou um cara de trinta e quatro, classe média num bairro de classe média paulistano (o adjetivo serve tanto pro bairro quanto pra mim). Sou um advogado caipira que trabalha numa prefeitura de uma cidade pequena, ex-professor, filho da melhor mãe do mundo, irmão dos dois melhores irmãos do mundo e casado com a protagonista das minhas comédias românticas preferidas. Feitor de não poucas besteiras, todas elas consertadas por uma equipe master de anjos, que se esbodegam no céu pra costurá-las por mim, de modo a que eu persista no caminho.
Tenho amigos que me carregam nos braços, um dos quais absurdamente chato, quase caricato, de cerquinha baixa com a bandeira norte-americana fincada ao lado da caixa de correios, que cortam grama nos fins de semana, comem panquecas no café da manhã e mandam sms durante os jogos de futebol, mas, fazer o que, é um dos meus melhores amigos. E me carrega, como os demais, ainda que não mais povoemos a casa dos meus pais, ou a dos pais deles, nos finais de semana, planejemos viagens e façamos tantos churrascos. Eles, ainda de longe e fazendo tanto tempo, me carregam.
No filme, o ator era um arquiteto que adquiria um controle remoto universal. Cheguei a berrar extasiado no comecinho, pra minha protagonista vir ver o que o treco fazia com as esposas que discutiam com os maridos. Na verdade, era um controle pra vida dele e, muito bacaninha , no final, a vida do cara ia passando sem ele aproveitar. Usava a expressão "no piloto automático" num irritante número de vezes, que te chegava a cutucar.
O filhadaputa do diretor me causou muita inveja uma hora, quando permitiu ao ator com seu controle remoto universal voltar a cena da última vez que conversara com seu pai, podendo assim falar o que não havia dito: que o amava muito. E, aqui, de novo, eu chateio quem me ler, pra falar agora pros seus pais e mães que os amam. Falem sempre, sem desculpas pra não externar. De boa, eu prefiro fazer essa campanha à de preservação a amazônia (elipse - essa foi a zappa, não a madre edith).
Quinta completam-se dois anos que meu pai morreu. Elipse é a supressão de uma palavra facilmente subentendida. Meu pai é facilmente subentendido nas minhas melhores aspirações, ele é o meu dever-ser, com o foda-se ligado grandão pra todas as correntes psicanalíticas unidas. Penso nele todos os dias desde então. Ele me dizia que pensava no pai dele todos os dias e eu duvidava. Pff. As cenas que estão me vindo, vocês vão me desculpar, mas eu não vou escrever dessa vez (voltei pra dizer que egoisticamente senti).
Eu não tenho o controle remoto universal e vou ficar com essa vontade engasgada de te abraçar, fazer o quê. Tomara que tudo o que me dizem, e eu creio daquele jeito, aconteça mesmo. Alceu: tomara meu Deus tomara...
Fato é que vim aqui pra dizer que renego o controle da vida. Renego, renego, renego. Jogo no lixo, no bueiro, defenestro-o. Já no dia de Tiradentes, mártir da liberdade, dou-me livre à vida. À minha vida certinha, amena, anônima, eu me entrego, com força. Ah, mas vou ser muito xingado agora pela minha protagonista, no décimo sono, mas eu preciso dizer que a amo. E xiu vocês que a conhecem, não contem que escrevi isso aqui, pois ela proibiu. Porque no filme, vc saca desde o início, era tudo sonho. Aqui não repete não, meu nego. A gente se vê por aqui; plim.


4 Comments:

Blogger Golb said...

Tenho medo do dia em que vc for cronista de um jornal de grande circulação (daqui um ano ou dez isso vai acontecer), pq certamente vai me retratar desse jeito caricatural. Ou melhor, equivocado.
**

Fiquei até com ligeiro remorso pelos emails e sms recentemente enviados. E teus posts, não tivessem outra utilidade, serviriam para me lembrar que, afinal, vc, no fundo, bem lá no fundo, não é o cara chato que parece.

11:13 AM  
Blogger Madureira said...

Isso porque não retratei o teu nariz, seu insuportável :o)

11:23 AM  
Blogger Dani said...

Tb chorei mto nessa parte do filme. Achei mesmo mto emocionante.
Beijo

8:29 PM  
Anonymous Anônimo said...

Como vc escreve bem,meu Deus! E eu aqui,gerando a continuação de TUDO dentro de mim, vou ligar agora para meus pais para dizer que eu amo muito eles! E digo mais,viciei no SEU BLOG!
ASS: Dévalgada agora Defendida

6:34 PM  

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