Chovia mas o menino sentia o sol queimando-lhe a cara, detrás das nuvens. Chovia e algumas gotas pingavam salgadas do seu queixo. Não seria a primeira nem a última vez, ele se irritava ao ter de repetir tanto aquela frase. Incrível como a introspecção reaviva cenas tão distantes. Parou na esquina e viu-se diante do caminho bifurcado. Chegaria à sua casa de qualquer maneira. Um pequeno desvio à esquerda, no entanto, poderia acarretar bem mais que o atraso de minuto e meio. Recordou da disposição dos porta-retratos nas estantes. Os sorrisos nas faces das pessoas, muitas das quais eram ele. Um homem dividido é um meio-homem, quem mandara criar aquela frase que àquela hora lhe açoitava mais que a água, que se fortaleceu gradativamente e agora era tormenta. Um frio intenso, calafrio e tosse e, ainda assim, o sol ainda lhe queimava o sangue. Então o menino tornou-se mais menino e rumava à aula de catecismo, quando aquela senhora bondosa lhe disse num sorriso sereno, que muitas vezes ele teria diante de si uma bifurcação e então cabia a ele, exclusivamente a ele, decidir por qual dos caminhos continuaria seu destino. Sim, seu destino. Flexível e solúvel como... uma hóstia. Tudo o mais seria mentira, para todo o sempre seria mentira.
A casa era verde, algo suja, pouco envelhecida. As cortinas puídas batiam nas grades das janelas. Abertas, um rádio chiava em AM, o único sinal de vida humana. Latidos. O menino parou do outro lado da rua, atrás de si dezenas de jovens entoavam hinos religiosos e batiam palmas, secundados por uma guitarra desafinada. Criara o menino, naquele momento, um caminho polifurcado, por que não. Foi quando fechou os olhos para a casa, para os hinos, para a chuva e o sol, para todo o som que não o do pulsar de seu coração. E foi naquele momento, ou mais exatamente nesse agora, que lhe deu a vontade incomensurável de correr até a sua casa, colocar todas as flores na varanda para tomarem a chuva, junto com ele e seu coração que pulsa e depois pintar o chão com seus pés molhados, por toda casa, enquanto averiguava cuidadosamente se cada um dos sorrisos daqueles porta-retratos todos não poderia simplesmente continuar a existir.
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(esse post foi escrito todinho com chasing cars ao fundo, mais uma música preferida apresentada pela dani m.).
A casa era verde, algo suja, pouco envelhecida. As cortinas puídas batiam nas grades das janelas. Abertas, um rádio chiava em AM, o único sinal de vida humana. Latidos. O menino parou do outro lado da rua, atrás de si dezenas de jovens entoavam hinos religiosos e batiam palmas, secundados por uma guitarra desafinada. Criara o menino, naquele momento, um caminho polifurcado, por que não. Foi quando fechou os olhos para a casa, para os hinos, para a chuva e o sol, para todo o som que não o do pulsar de seu coração. E foi naquele momento, ou mais exatamente nesse agora, que lhe deu a vontade incomensurável de correr até a sua casa, colocar todas as flores na varanda para tomarem a chuva, junto com ele e seu coração que pulsa e depois pintar o chão com seus pés molhados, por toda casa, enquanto averiguava cuidadosamente se cada um dos sorrisos daqueles porta-retratos todos não poderia simplesmente continuar a existir.
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(esse post foi escrito todinho com chasing cars ao fundo, mais uma música preferida apresentada pela dani m.).
7 Comments:
Seria mesmo bom se os sorrisos dos porta-retratos continuassem a existir...
Escolhas...ai..ai
bjsssss
AdriB
sempre podem voltar a.
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drib! jogador bom é aquele que driba pro gol. é assim que vc é.
Demorei, mas li. Não sei porque... mas me bateu uma saudade de uma certa época...
Beijos.
sua demorada rsrs.
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pois é, anônimo, eu tb concordo: -....----..-.-.-.-.......-.-.-..
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