quinta-feira, março 20, 2008

Nas coxas, mas, revisado.

Então eu venho nos braços de outono, retorno pro mesmo lugar donde o corpo nem saiu. Só a mente que foi, que voou, que sorveu, que chupou, a mente que riu e chorou e sentiu e maldisse e gritou: - agora eu te conheço, mim mesmo, um tantinho assim mais.

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Uma experiência magnífica, um êxtase, uma catarse, como foi rotulada. Um desvendar, na verdade, um entreabrir, um deixar-se espiar, um permitir-se e um... calar. Porque já se havia dito que ali não era lugar de cura, não se forjariam ali novos homens e novas mulheres, ali apenas se apresentariam as ferramentas que cada um de nós temos e relutamos em, ou não sabemos como, usar. Ao que, praticamente depois, adiciono: use a experiência quietinho.

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As conseqüências foram todas válidas, embora algumas dolorosas, algumas causa de injustiça. Sempre a essência há de vencer e, se mágoa surgiu, o dever é buscar entender o porquê e consertar. Com sinceridade, honestidade e verdade.

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Uma conseqüência ainda não foi detonada, está em compasso de espera, algo muito ruim pode acontecer, ou não, na semana que vem (domingo à noite, napoleão no exílio: não vai acontecer). Um tomar de posição, tão firme, como nunca se tinha tomado, decerto fará o tomador perder um pouco a mão, como de fato perdi. Cabe-me, então, assumir o que foi feito, como homem que sou, explicar o que se quis fazer e arcar com as "conseqüências dessa conseqüência". Não morrerei por causa disso. O importante é estar preparado, de peito aberto. E estou.

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Mas eu te disse do outono. O outono me deixa feliz. É a minha estação preferida, sempre foi, sempre vai ser. A luminosidade diferente, o bater enviesado dos últimos raios de sol, a sensação de mudança, as montanhas de Atibaia com suas pedras ao cume, prontas pra se partirem em duas, no meu coração, como um grãozinho, uma semente, mirada ao infinito, assim que vejo a minha eterna pedra grande, olha só:

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Tanta coisa pra escrever, a minha vida pelas bikes, a personalidade da vica, se teve uma coisa que aprendi é não deixar as coisas pra amanhã. Aí vamos nós.

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Todas as pessoas podem pautar as suas vidas por várias coisas. Músicas são o critério mais comum. Eu arrumei mais um: as minhas bicicletas.

Em Socorro ganhei de meu tio mais velho uma Caloi Totica. Mínima. Azul escuro. Duas rodinhas. Eu tinha quatro anos e pedalava na garagem. Imensidão de lajotas vermelhas. Só me lembro disso.

Pra Atibaia me mudei com cinco anos. Uma rodinha foi tirada e minha vida pendeu por alguns meses para o lado direito, onde havia a proteção da derradeira rodinha. Quantas rodinhas não insistimos em utilizar e deixamos a nossa vida assim, pensa. Dá pra andar, é verdade, mas não se imagina a potencialidade do curso em equilíbrio pelo só-nosso corpo. Meses depois, a segunda rodinha foi tirada e daí vieram o que mais tememos, os tombos. Muitos tombos. Muitos ralados, joelhos, cotovelos, queixos até.

A vida da gente muitas vezes faz os joelhos rasparem nos guidões. Era época de trocar a totica, já tinha seis ou sete anos.

E aí veio o E.T. E com ele o primeiro sonho de ser um dos três moleques, seguindo o cabeçudo, com a lua ao fundo, sobre as descomunais bicicletas "cross"! Interessante haver dias em que se ganhar uma Caloi Cross é mais importante que estabilidade financeira, problemas no trabalho, desilusões amorosas. E esses dias existiram. 1982 era o ano, tinha sete anos e eu quis, quis muito, uma caloi cross extra light. Usei dos subterfúgios clássicos, como colocar em todos os bolsos, internos e externos, das calças e camisas e paletós do meu pai o infalível “eu quero a minha caloi”, fiz manha, fiz agrados, até que um dia meu pai me levou, num sábado de manhã, para a “Casa da Sogra”, nunca vou esquecer esse nome, pra comprar a minha bicicleta.

O ser humano é um filha da puta, e eu não dei valor na hora pra minha caloi cross, levou um tempo. Isso porque meus amigos tinham a famigerada caloi cross extra light, mas o meu pai me deu uma caloi cross extra, "não-light". E, por isso, eu não gostava tanto dela, na época em ganhei, pq não tinha o sufixo light e a cor não era branca, como as light; era vermelha.

Mas os primeiros dias passaram-se e eu aprendi a amar a minha caloi, do jeito que ela era, de um jeito parecido como aprendi a gostar muito (não sei se amo) o Direito, vários e vários anos depois, nada de paixão instantânea. Extralight ficou só uma lembrança, um futuro do pretérito, revivido no meu MSN (quem não tinha entendido até agora, aqui te foi a explicação).

Ela tinha uma espuminha no guidão, tinha uma plaquinha de plástico, tipo número de competição, um dos meus números da sorte, até hoje: 315. Ela era maravilhosa. Com ela eu fiz bicicross, ia na pistinha do caíque com gente mais velha, já fiquei preso dentro do buracão, caí muito, me esfolei inteiro, fiz vários dos famigerados "rolos", troquei um canote torto por um par de manoplas, troquei o jogo de adesivos várias e várias vezes, todas as novidades foram implementadas, desde as tampinhas amarelas dos biquinhos dos pneus, até o banco importado cujo nome se perdeu na minha memória. Pedalando minha caloi cross eu virei adolescente e fiz minhas primeiras trilhas, percorri a tempestade, musa, como te disse ainda hoje, gritando com o meu melhor amigo, a cidade deserta às três da tarde, relâmpagos e trovões e a gente berrando ensopado, uma das cenas pro cineminha de quando eu morrer, certeza. Pintei-a inteirinha de branco, ficou horrível, mas deixei-a, assim, próxima da extralight, insaciável que sou.

Aos quinze ganhei minha caloi cruiser, feia feia, verde água. Uma época em que a importância não era dada devidamente à bicicleta, foi roubada no fundo do corredor da minha escola de datilografia (sou velho) no senac. Minha então instrutora, que tempos depois criou o até hoje mais formidável estabelecimento que vi, uma sex shop E loja de macumba, ainda tentou sair comigo atrás dos meliantes, mas a porra da motinho dela não funcionava e eu vi minha cruiser 5 marchas, feia feia, verde água, sumir pequenininha, por uma das vielas do bairro da ponte, lá embaixo. Ganhei bronca do meu pai, por ser desleixado com minhas coisas (sob os mais veementes protestos de minha parte), e falou que não ia dar mais nenhuma bicicleta pra mim.

Realmente, comprei a seguinte (e atual) com meu primeiro salário, uma, como não podia deixar de ser, caloi, igualmente vermelha, 21 marchas, não lembro o nome, com que andei muito menos que a insuperável caloi cross extra do ET, já que a vida me dá menos tempo pra pedalar sob a tempestade berrando. Termino o relato das bike com uma pergunta: será mesmo?
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Tirante isso, a Vica tem uma personalidade que merece ser personagem de livro realista fantástico, mas como eu não sou o Gabriel García (ah, os garcias) Márquez, passo a falar um pouquinho, autorizadamente, como segue.

Ela é sarcástica. Mas não é do mal. Requer muita habilidade da pessoa, ser sarcástico e do bem. Mas ela é. Ela é cética também. Tem lá suas crenças, tem lá seus dedinhos com a intuição de suas quase homônimas wiccas, mas é uma moça do mundo concreto. Gera um certo excesso de dedos, em quem está à sua volta, pois xinga mesmo, sem dó, se a cutucam. Não tem meias palavras. Talvez não tenha entendido muito bem o que eu disse, quanto à sua extrema sinceridade, mas isso é pra se conversar a sós no MSN, seus abelhudos. Ela é de extrema generosidade. Vc não precisa pedir, se ela percebe que vc precisa de algo (argüição de relevância no STJ é um singelo exemplo), ela te ajuda. Se ela percebe que é manha, que vc não precisa tanto assim do que pede, ela assume a personalidade da Olívia, sua gata (imagino eu que, gata sendo, a Olívia também o faça) e joga areinha imaginária com as patas traseiras no teu nhenhenhém. Ela é opiniosa, Deus Meu, como é opiniosa. Tem opinião sobre tudo mas, felizmente, enjoa se não prevalece da primeira vez que explana e joga mais areinha imaginária (eita, se não entendeu ainda, ela dá de ombros). A vica é também, e tudo ao mesmo tempo agora, uma menininha. Com medos e carências, que não gosta de demonstrar e, imagino, mostre pra muito poucas pessoas. Ela tem garra no trabalho, é guerreira, dupla polva com dezesseis tentáculos, sobretudo de manhã (nem tente falar no gtalk nessa hora), mas o que gosta mesmo é de chamego e sosseguinho. Reclama de um monte de coisas, sem ser chata por isso (não é credora do mundo, como diria meu pai). Reclama na medida certa, diria eu. Na verdade, ela é a reencarnação de uma, aprendi a palavra com ela, mecenas, de nome Virgginiaa Caishtiglionnne (grafia antigoogle), que devia ter alguma nuance impoluta, todas essas personalidades que ultrapassam séculos têm, mas que a vica não contou. Fiquemos com essas características todas, bem fortes, bem legais, bem chatinhas, muito de vez em quando (desculpa, falo isso na qualidade de bem chatinho que sou). Além disso, é uma pessoa cosmopolita, tem visão de mundo, usa bem sua cultura geral, pra entender o que acontece no mês de março de 2008, no sul do Brasil ou no leste europeu. Por fim, me assusta um pouco, por não querer, no fundo não querer, se desvencilhar das faquinhas que a atormentam. Não tem como não gostar de uma pessoa assim. Taí teu post, como prometido. Sem revisão, sem arrependimentos, que só virão qdo ler de novo, depois do feriado, mas daí já vai ser tarde demais. Espero que goste, como eu gosto de vc, minha amiga.

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Um bom outono a todos os amigos do Madureira do B, tentem sentir essas coisas que eu sinto, sem saber explicar, que só no outono dá.

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Danifisha e Siddartha, vcs me fizeram muito felizes, muito mesmo. Quero conversar horrores sobre isso com vcs, na volta do feriado.

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Dani.m., coma muito chocolate e até a semana que vem.

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Esse texto pequenino vai sem revisão mesmo, pq agora eu vou pra minha HELP CITY PARADISE, BERÇO QUERIDO DA MINHA VIDA.

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opa, só complementando, outono hoje e lua cheia amanhã! Perfeição!

5 Comments:

Blogger Dani said...

Que bom que tu voltaste a escrever!
Espero que a vica goste do teu post pra ela, pq eu achei perfeito. hehehehe
Até semana que vem! Boa Páscoa!
Beijo

1:28 PM  
Blogger Vica said...

Tá, até gostei do teu post na parte que ele fala de mim... :P
;)

1:52 PM  
Anonymous Anônimo said...

Vim conhecer o tal post, afinal tem propaganda no blog da Vica.
Acho que uma das minhas frustrações foi ter tido apenas uma única bicicleta, aquela que nunca abandonou as rodinhas e não cresceu comigo pois foi "herdada" (não por vontade minha que ainda não estava pronta pra abandonar minha bicicleta) pela minha irmã. Cresci orfã de bicicleta.

Mas conheço a Vica. O que talvez não seja compensação da bicicleta. Mas é o que tenho em comum com esse texto.

Bjs!

9:31 AM  
Blogger Madureira said...

sim, voltei. mas o madureira voltando, vai ficar ainda melhor. ele deve estar descendo pela venezuela, nesse momento, pq disse que a gasolina lá é baratinha.
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até gostou rsrs, vc adorou que eu sei.
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poetriz, ler esse post meu foi um sinal pra vc comprar uma bicicleta pra vc. aliás, que bom que vc fala bicicleta, e não bike.
eu achei que vc pudesse ter o outono em comum.
to curioso pra ler coisas tuas.

1:33 PM  
Anonymous Anônimo said...

Este comentário foi removido por um administrador do blog.

1:11 PM  

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