quarta-feira, dezembro 26, 2007

Tio Philo me ensinou a desenhar pássaros e muitas outras figuras. Fiquei adulto e adquiri os dedos do tio Philo, é impressionante a semelhança.
Eu queria ter uma caloi cross extralight. Ganhei do meu pai uma caloi cross extra. sem o light. O número da placa de plástico na frente era 315.
Este número é um dos meus números da sorte e não sei se deveria contar assim.
Extralight acabou virando o sufixo do meu msn. E a caloi cross extra foi o primeiro veículo a me levar para lugares inimaginados.
Os goonies me fizeram sonhar alto. Mas antes disso eu já sonhava como crianças de filmes americanos.
Vcs já sabem que vendi ovos de dinossauros no museu com seis anos, conquistados nos vãos do muro de pedra de minha casa, coincidentemente o habitat de grande população de lagartixas.
Construímos um castelo com sobras de tijolos de uma construção. Cabiam os nove ou dez componentes da turma dentro.
Planejamos um eficiente sistema de transportes pelas árvores do quintal, por meio de roldanas e fios de nylon.
Iniciamos a construção de uma miniferrovia no porão da casa do Valdir.
Minha diversão era planejar o nascimento e desenvolvimento de cidades numa folha de papel em branco, com intrincados sistemas de produção e distribuição de insumos e produtos.
Parece que há programas que ensinam a brincar assim hoje.
Minha primeira poesia escrevi no telhado.
Meu primeiro conto foi lido inúmeras vezes para as visitas, com pedidos de atenção para o final inusitado.
A mais antiga sensação lembrada, intensa e profunda de liberdade é a da paisagem noturna se modificando pela janela do trem entre São Paulo e Rio. Eu lutava contra o sono e queria sentir mais daquilo. Disso que sinto em lembrança agora, tão próximo.
Um gosto que tinha era o de tentar adivinhar a vida cotidiana de cada morador de cada barraquinho das favelas, na estrada que nos trazia até São Paulo.
Eu tinha e tenho um melhor amigo desde então. Fazíamos intervenções urbanas rudimentares, parecidas com as que hoje vejo na televisão.
Havia muito mais coisas, cada dia era dia de se criar algo assim. Por anos e anos a fio.
O sentimento de conquista que cada fato desses me causou forma firmemente a minha personalidade atual.
Tudo isso até os dez, onze anos.
Eu era tecnicamente uma criança.
Hoje eu vejo crianças obrigadas a se adaptarem ao mundo adulto, encorajadas isso por orgulhosos pais, que afastam delas quaisquer traços de imaginação fantasiosa.
Algumas dessas lembranças me fazem pedir a todos os pais que vierem a ler isso que dêem duas coisas vitais a seus filhos: incentivo e liberdade.
A imaginação sempre terá chance de tornar-se realidade.
Com isso as crianças se apoderam das ferramentas para viver bem. Em quaisquer circunstâncias.
Carpe diem.
Boa semana a todos.

2 Comments:

Blogger Carol said...

AMEEEIII!!! Sugiro como trilha sonora pra esse post a música "Aquarela", do Toquinho (eu acho).
Beijocas, guri!!

7:14 PM  
Blogger Vica said...

Lindo post, amigo. Espero que teu dilema se resolva. Beijos.

9:08 PM  

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