sábado, setembro 27, 2008

TIE DYE PRAÇA DA ÁRVORE

Se o Lula tem o Nunca antes na História desse país eu posso ter o quem me conhece sabe, então dá licença.
Quem me conhece sabe da minha preferência pelas barbearias populares. Necessário (muitíssimo), porém, saber como isso começou.
Saber isso, por sua vez, é um bom ensejo de mais um critério pra histórico, assim como o das bicicletas e o dos hobbies.
Assim, conheçam minha vida por meio dos meus barbeiros.
O primeiro que me lembro era o Salão Moraes. Ficava na Benedito Almeida Bueno, a rua do comércio popular de Atibaia.
Visualizem o Sr. Barriga. Era o próprio Bastião Moraes. Depois de vinte anos sem sequer pensar no dito, me assusta a semelhança. Bastião só não deixava beber a pinga que ficava do lado das revistas de mulher pelada. Foi vista ali uma das minhas primeiras revistas de mulher pelada.
Bastião gostava de causos, pescar, pinga e mulher pelada, não sei bem se nessa ordem. Lá cortei as madeixas dos meus seis aos catorze anos. Nos últimos tempos (dos meus treze pra catorze anos), as pescarias ficaram mais longas e mais evidentes os caminhos de rato deixados no meu crânio. Moraes, de qualquer forma, sempre deixava todos os cabelos atibaienses iguais. Sem inspiração, exceto quando resolvi deixar comprido lá na nuca, não sei se igual aos menudos ou os jogadores de futebol da época ou os emergentes sertanejos. Hediondo.
Eu tinha então (e devo ter) cabelos cacheados. Mais cedo que isso, eu era loiro e minha mãe deixava compridinho, ficava cheio de cachinhos, tchuco-tchuco.
Dos quinze aos dezoito não merece muito registro,"Geniu's Cabeleireiro", desonrei os salões populares.A moda era cortar curtinho dos lados e comprido em cima. Ali foi até os dezoito, quando me mudei para São Paulo.
Na época da faculdade cheguei a ter, pasmem, topete. O golbery me achava a cara do Dylan, dos barrados no baile. Não merece muito comentário também. Dissidência do Geniu's, aos sábados pela manhã. Também não era popular.
Terminada a faculdade, já semi careca, volto a morar em Atibaia. Todos os possíveis penteados davam a nítida (e falsa) impressão que estava escondendo as entradas. Aí me rebelei. Passei a cortar no salão em frente da rodoviária. E passei a rapar o cabelo. Deilão no máximo e tava tudo resolvido. Mas eu ainda não estava satisfeito.
Um ano antes de casar, estamos falando de 2003, mudo-me pra São Paulo e viro um ermitão. Nascem Os Madureiras. Já estava tão careca quanto hoje, praticamente. Aí foi a festa. Salõezinhos de Santa Cecília, por cincão, deixavam meu egg head style perfeitinho.
Chegando a data do casamento, resolvi deixar crescer um pouquinho. Aquele eterno medo das fotografias igualmente eternas e tal.
Foi quando fui ao melhor barbeiro de todos os tempos, o Seo Zé, no prédio do cursinho, no vale do Anhangabaú. Faltava um mês.
Ele cortou tão bem que, no dia do casamento, enquanto muitos gastam os tubos nos melhores salões de são paulo eu voltei ao Seo Zé e fiz barba, cabelo e bigode. Minha cara parecia um bumbum de petiz. Só pra confirmação, solicito o depoimento formal do Golb sobre o Seo Zé.
Parei de fazer o cursinho e ficou difícil demais ir ao seo zé. Aí comecei a peregrinação.
Estamos em 2004. Já morando no meu apartamento atual. Na mesma calçada, a cem metros, um salãozinho popular. Quanto tá o corte? Doze. E pra passar a maquininha? Dez. Que vá. Deu nostalgia do Seo Zé fazendo a barba. Faça-me tbm. Mais cinco.
Foi quando ele passou a espuma de barbear na minha cara e quando eu parecia saído do desenho do pica-pau ele começa a me passar um prestobarba usado que pegou no balcãozinho.
Fiquei umas semanas com medo de ter pego aids.
Aí decidi que lá não tinha condição. Passei a freqüentar o do quarteirão de baixo, o golb um dia foi lá. O bom é que as revistas de mulher pelada eram atualíssimas. Mas passaram a cobrar mais e mais caro. E o golb falou que todos saem de lá com a cabeça quadrada. Parei de ir.
Aí surgiu o inesquecível, o ícone, o absoluto JÔ BLACKPOWER. Na verdade, eu já tinha ido lá antes, até já fiz post, na ocasião. - Eu quero que passe a máquina. Ele começa a cortar com a tesoura. - Moço, passa a máquina. Continua com a tesoura. - Moço (pensa bem no tamanho do cara, medo de contrariar). Que vá, corte com a tesoura mesmo.
Mas depois que os sacanas das cabeças quadradas zoaram demais no preço, voltei ao Jô Blackpower. E lá meus cabelos (e os de todos os motoboys da região) pagaram R$ 5,00 por mês pra manterem-se sempre rapadinhos. Perfeitinhos. Como qualquer salão popular pode fazer, mas nenhum sob uma placa reluzente que indicava o título Jô Blackpower.
Só que o Jô fechou.
Aí comecei a frequentar, isso ano passado, O Popular (título meu), na própria praça da Árvore. A musa é testemunha de um fato muito constrangedor lá ocorrido. R$ 7,00 e estávamos sempre conversados, mês a mês, carequinha rapadinha, chuchu beleza coisa e tal.
Até que eu resolvi ligar anteontem pra cabeleireira que me atendeu da outra vez e que ficou mais meticulosamente cortando os cabelinhos restantes pós-máquina, enquanto falava de espiritismo, plástica na barriga e financiamento de apartamento. Liguei e ela zoou. Falou pra eu ir e atendeu uma mulher primeiro.
Aí falei que voltava outro dia e voltei pra casa.
Ni qui tava esperando no farol pra atravessar, eis que me esfuzio: o jô blackpower reabriu. Sem o Jô, sem o Blackpower, sob nova direção.
E enquanto o negão passava a maquininha, sua ajudante vendia aos populares da praça da árvore uns bilhetinhos.
Suspeitíssimos.
Estou atingindo a perfeição em matéria de barbeiros populares.